quarta-feira, 31 de março de 2010

Chega de feras, vamos bater a poeira, essa noite é de festa. Só para dar uma quebrada no "campo vibracional" da postagem anterior:

Um fio solto, um rabo preso, um canto na escuridão, um
pássaro no porão uma estrela na mão, o mundo no céu, no seu, meu, véu.

Peguei um pedacinho de véu azul, claro, leve, fino. Desfiei, soprei, sumiu. Subiu, se misturou ao resto de si. Descobri que o resto era o todo, e o que era todo para mim, me fez resto para se juntar ao todo de si, que para mim, era resto dele.

Me tornei o meu todo, assim, não preciso de complemento, e o que se junta a mim passa a ser parte do meu todo. O que se desliga de mim, leva um resto meu e deixa um resto seu. Mas, para o meu todo, não há resto. O resto é inteiro em si, e o inteiro sem si, é resto.

domingo, 28 de março de 2010

Hoje acordei muito cansada... não sei que horas dormi nem quando acordei, perdi meus papeis de anotações, com eles minhas memórias. Agora como poderei dizer ao certo quem sou? Preciso de um papel e uma caneta, é urgente, ou esquecerei o pouco que posso lembrar agora, então será o fim. Foi aquela pata de um animal grande, talvez um urso, que arrancou brutalmente aquela imagem cinza, enquanto olhava para as minhas recordações em pequenos pedaços de papel, quem sabe fotografias antigas. Um filme antigo, uma imagem oscilante, e aquela menina de saia escura e blusa clara, cabelos presos, sentada nos degraus da varanda de uma pequena casa de madeira. Os copos de leite contavam histórias, de lugares ainda desconhecidos, nem a chuva forte os calou, os trovões causaram sobressaltos, mas não o abandono. O problema é aquela pata mesmo, uma fera qualquer, que invade vidas alheias, memórias alheias, rouba? Talvez essa seja uma palavra forte demais, não sei ao certo, eu diria que arranca, sim, foi isso que aconteceu, uma fera arrancou, qualquer coisa muito especial. Era uma fera de pelos escuros, aparência meiga, mas garras muito afiadas. E nós já sabíamos que as aparências enganam, e como enganam. Precisamos estar atentos para o que há além delas, e eu estive, estive atenta esse tempo todo. A menina na varanda estava atenta também?

Não, todos nós nos distraímos. Ela, você e eu, deixamos o caminho aberto para as feras todas, e as feras não têm esse respeito aí pelo nosso espaço. E aquele filme foi arrancado da parede escura, com uma patada rápida, e hoje eu acordei sem memórias. Acordei com minha cabeça ainda envolta nos sonhos que não lembro, meus braços ainda pesando pelo cansaço da luta, talvez. E alguns dizem que é então hora de descansar... O que é o descanso para os que têm a mente inquieta? Essa noite lutei contra uma fera e ela venceu. Venceu?

A tal fera saiu cantando vitória, e eu descobri que dois vencem ao mesmo tempo. Não sabemos o que queremos de fato, isso é certo. Não sabemos o que é o desejo de nossas almas, pedimos por coisas, e quando temos, descobrimos que estávamos errados. A fera saiu cantando vitória, não porque ganhou o que queria, mas porque arrancou o que outro queria, ou recuperou o que nunca teve. O que a fera não sabia, é que não sabia nem de si. E a fera saiu cantando vitória.

Eu em silêncio, para que ninguém percebesse, me alegrei também, pedi que abençoassem a tal fera, ela não sabia o que levava consigo. Hoje acordei sem lembranças. Uma fera levou minhas memórias, mas ela não sabe como encontra-las. Elas se escondem umas dentro das outras e só eu decifro, só você sabe. A fera cantou vitória, e hoje eu acordei sem lembranças. A fera cantou vitória, e eu chorei em silêncio. A fera cantou vitória, as memórias se deixaram levar, eu chorei baixinho e sorri ao ver tudo que a fera não sabe.

Lembrei do dia em que encarei a verdade no alto do morro. Hoje acordei sem memória, mas encontrei a verdade no caminho, ainda não decifrei, mas não fiquei só. Empurrei uma pedra lá do alto, e ela rolou pela grama verde, caiu no rio e flutuou. A tal pedra voando pelos céus buscou minhas lembranças e não encontrou. Essa noite uma fera arrancou minhas lembranças, hoje acordei ao lado da verdade. Sentada num banco, de chapéu amarelo, sapatos vermelhos, vestido preto, gola alta, broche. O cachecol voando com o vento, as nuvens correndo rápidas, minhas memórias.

Berrei tão alto quanto pude, sentada sobre as mãos, banco redondo. Eco, ecoou, vôo. As palavras giraram ao meu redor, subiram, desceram, cantarolaram, tocaram flautas, passarinhos. Essa noite uma fera levou minhas dores. Hoje acordei triste. Essa noite uma fera levou minhas memórias, hoje acordei dançando. Joguei o banco da colina, meu chapéu correu pela grama verde, me jogou da janela, meu vestido pintou estrelas, meus sapatos fizeram ninhos nas sacadas. Essa noite uma fera levou meus sapatos vermelhos, hoje acordei de pantufas.

sábado, 27 de março de 2010

Esta noite olhei para a minha individualidade e perguntei: o que é? Ela muito desaforada se recusou a responder. Pensei: talvez seja muito individualista.

sexta-feira, 26 de março de 2010

(dez)Equilíbrio energético

Os outros roubam minha energia, era só o que faltava, até isso estão roubando! Para gente, vocês pensam que é fácil juntar energia? Eu tenho mais o que fazer, e agora? "Moço me vê um potinho de energia aí. Ai me vê um para o plexo solar e uns dois para esse chakra aqui ó, qual é mesmo o nome? Ah sim, sim isso mesmo, valeu aí viu." Para né, e daqui a pouco vem a inflação energética, reajuste daqui e dalí, vai faltar energia no mercado... daí quero só ver. Pô vamos ficar cada um com a sua né, a gente pode fazer até umas trocas, mas tem que ser justa, sabe como é, manter o equilíbrio do negócio. Sai pra lá com esse teu olho gordo aí. Será que tem lipo para o olho? O negócio é comprar um daqueles de vidro que sai mais em conta.
Gente, to raspando o fundo do meu tacho energético, é melhor que a situação fique mais favorável, se não complica. Pensamento positivo, pensamento positivo... Tá funcionando!

quinta-feira, 25 de março de 2010

Às vezes o passado soa tão ridículo que tenho medo do futuro.
Sentei para observar o jogo da vida e percebi que minha saia voava sem vento, joguei minhas botas pela janela e corri de meias pelo céu. Caí no penhasco, rodopiando fui ao infinito, encontrei infinitas possibilidades, todas finitas. Ganhei um coração novo, apertei bem forte e ele explodiu. Pedi ajuda; vi uma lagarta espertinha. Coloquei em um vidro, pendurei na janela. Uma traça trançou meus cabelos, de um jacaré ganhei uma tiara. Borboletas pousaram em minhas orelhas, vaga lumes no meu pescoço. Joaninhas vermelhas e verdes me carregaram. Se me encontrar por aí e for amigo pegue uma carona, se não quiser, não faça de conta. Conta tudo e joga fora. Fora o resto resta eu. Fora eu, resta tu. Tatu.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Tem dias que tenho medo dos fantasmas embaixo da cama, tem dias que sento ao lado deles.

terça-feira, 23 de março de 2010

Sopro

A espera: uma linha infinita, enigma. Preenchi minha linha com flores, sorri para os passarinhos, acenei para as nuvens, reguei as plantas com lágrimas doces. Dancei entre os carros, as ruas, as pessoas. Dancei no ar. Guiei-me pelos tons, pelos sons. Fechei os olhos e deixei que o sol aquecesse. Pedi abraços, ganhei carinhos, sorri para o inimigo, beijei o desconhecido, abracei aquele que me trai e joguei os dados para o alto. Quem será a próxima vitima?Sentei no banco mais alto, na colina mais alta e observei a vida. Olhei a verdade nos olhos e não pude decifra-la. A verdade entrou toda de uma vez no meu peito e me sufocou. Arranquei ela de lá, mandei que se calasse, respirei fundo, enfiei um olho pelo gargalo da garrafa, encarei a verdade novamente e agora ela sorria jocosa. Uma questão de ponto de vista! Quando outros chegaram, ela se escondeu. Eu berrei, ela se recusou, eu solucei, ela sussurrou; não queria que os outros ouvissem. Senti-me pesada, rodopiei, sorri sarcástica, entrei no seu jogo, joguei, joguei fora. Falei verdades duras disfarçadas em sorrisos malandros. Senti-me poderosa, me vi impotente.Sou fraca para o mundo todo, sou forte para a parte que me cabe. Vou abrir as janelas e ver os papeis voando. Quero que a ventania organize a seu modo. Tenho os braços cruzados e de pé em um canto, observo. Tudo é claro, a luz penetra por todo o ambiente, a sombra pede abrigo. A água parou, meu sangue repousa. Está tudo suspenso. Vou pular pela janela e voar para todos os lugares. Vou ficar aqui parada e ver o vento trabalhar. Em silêncio. Tudo se move, nada fala nem falha, farfalha.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Se pudesse pisar nas nuvens (e eu posso)

Flutuaria pelo ar, livre de todo o peso morto do passado. Quem perde? Todos perdem algo, ganhar também envolve a perda de alguma coisa. Sempre há risco envolvido, é preciso coragem para viver por inteiro.
Vou desafinar para chamar a atenção dos chatos, vou subir até não ter mais para onde ir (mas sempre há).
Vou catar pedrinhas na praia em noite de lua cheia. Enquanto durmo no meu quintal florido, onde voam borboletas em roupa de gala.

domingo, 21 de março de 2010

Soul

Sou a explosão de uma estrela, sou combustão. Um pequeno planeta perdido no universo escuro, um peixe fora d’água, uma borboleta no aquário. Durmo demais para quem tem insônia e pouco para quem precisa dormir. Acordo porque a cama me cansa. Sou ondas no mar, se estou acesa posso apagar, mas se estou apagada vou ascender, e se ascendo não pago nem caio. Se não pago também não apago. A pago, Pagu.

Condução

Um campo verde, árvores frondosas, flores claras, sol refletido em cada superfície cálida. Calada, vejo os pássaros, as borboletas, coelhos, castelos, casebres, cabanas. Cabana, madeira, pedras, calor, ar leve, som leve, eu leve, me leve.
Escadas, janelas, porta, sacada. Céu, sol, estrelas. Dia, tarde, noite, tarde da noite. Amora, amor a, amor há. Há de haver amor. Amor em haver, dever. Não é dever, nem deve, só doa. Doa a quem doer, não doe, dá. Dá, dadá, gugudada. Bebê, beber, nascer. Ser, crescer. Ceder, sede, cede. Casa, lar, abrigo. Brigo, não brigo, obrigo. Obrigado, de nada. Acabei, voltei, parei, sorri. Sorrir, sorriso, sorrateiro. Não sou rateiro. Sou arteiro.