sábado, 30 de abril de 2011

Escutar

Tive que desligar para poder escrever. Tive que parar o barulho externo para poder ouvir o que havia dentro. Hoje é um dia como tantos outros mas sinto-me impelida a tantas decisões. Sim eu fechei novamente este blog, mas cuidado não faça confusão, o que eu fiz foi abrir para nós. As pessoas começaram a pensar que sabem exatamente do que falo, que sabem bem o que sinto, que podem definir meus direitos e deveres. Alguns pensam que as provações que passo não têm valor, eu também aguentei algumas coisas, e não é por um mimo de alguém que nem conheço que eu deixarei de falar como sempre falei. Pois bem, estou feliz que possamos novamente estar livres no nosso espaço. Agora podemos bater asas novamente, podemos mais uma vez assistir a cera derreter e se misturar às penas. O sol hoje brilha para nós, estamos mais uma vez soltos nesse campo em construção, em constante construção. Somos novamente só nós para que possamos por fim ser do mundo inteiro. E então viajaremos de mão em mão, sem nem supor os lugares que estaremos, serão tantos lugares. Viajaremos de olhos fechados e voz ativa, seremos devorados por olhos desejosos de nos conhecer mais e mais. E seremos tantos, seremos tantos que daremos trabalho a eles. Eles levarão tempo tentando nos conhecer, eles vão fechar e nos guardar em uma gaveta ou sobre a mesa, mas nós continuaremos rodopiando em suas mentes, consciente ou não. E nós estaremos em alguma nova atitude que eles tomarão, nós estaremos em novas ideias, seremos inspirações, seremos alento e inquietude. Construiremos com tinta e papel mundos inteiros, florestas e rios. Seremos grandes, seremos gigantes, estaremos escorrendo sem controle sobre isso. Seremos uma conquista a cada dia, e continuaremos cada vez com mais qualidade, cada vez com mais fome de fazer. E por fim esse será nosso trabalho, esse será nosso dever. Seremos simplesmente criadores, reprodutores de boas ideias, teremos as asas de cera mais resistentes, e que conseguiram chegar mais próximas do sol, e que conseguiram até tomar banho de mar, por estar constantemente se reorganizando, estamos constantemente nos reformulando, derretemos e nos remoldamos. Vamos agir, já sabemos o que queremos, então não percamos mais tempo. Disseram que somos capazes, acho que é hora de confiar.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Passou

Um sino toca ao longe e é novamente hora de recolher. A chuva cai lentamente gota por gota dentro de cada um. Eles se reúnem no corredor gélido e esperam que soe para ouvir a voz daquele que está longe, esperam que voe na corrente mais delicada com a notícia fatídica. Todos chovem lentamente, o céu é cinza e espalha seu frio para dentro das almas. Estão reunidos de pé no corredor cor do céu, alguns são vencidos e sentam com os cotovelos nos joelhos e as mão atadas. Dessa vez a chuva não escorre para o papel junto com as palavras. Dessa vez o texto não traz alívio. Acabou mais uma vez, as frases se acomodaram agora dentro do corpo imóvel. Nas memórias ele ainda se desloca com graciosidade, e ainda podemos ouvir o último sopro da sua voz. Por alguns segundos pensamos que tudo não passou de ilusão, uma grande farsa da mente cansada. Trocamos aquele sopro frio pelos lamentos de quem ainda pode, pelas súplicas por liberação daquele estado que é tão seu. Todos chovem lentamente, alguns são tempestade. Os ventos que sopram em si levam em direções contrárias, em direções variadas, levam sem direção. Perder o rumo é tão parte disso tudo, é tão complementar a essa incompletude que se instala. Não é mentira, não é pegadinha, não tem volta, não volta. Revolta não é como refluxo, não retoma, não recria, não revalida. Eles começam a se levantar, trocar posições, vão revivendo aos poucos. Escolhem seus postos e agem como podem para resolver, cobrem os espelhos e se reúnem no centro do tapete, uma mulher ao canto, um gato sobre a cômoda, um menino e um carrinho, um charuto apagado, muitos acúmulos, muitos vazios, muitos vazados, poucos planos, nenhum plano, quantas duvidas, quantas partes, de quantas partes somos, em quantas partes estamos, quando partem, quando partes. Quando, quanto, ficamos todos no mesmo oco, carregamos todos o mesmo vazio. Mas é assim sempre, só que agora temos no que pensar, ou no que tentar não pensar. Agora simplesmente temos o que não temos. Somos tão corajosos por ainda estar aqui, somos tantos e ainda assim somos tão pouco.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Àquela que ama


De cabeça baixa ela olhou de canto como quem tem medo, como se fosse tímida. Sua imagem inteira cinza logo revelou o monstro de dentes e garras pontudos. Avançou sobre nós descrevendo uma parábola, vimos sua boca crescer. Falamos que ela já podia partir, que não precisávamos mais dela, foi isso que provocou o ataque. Sentou novamente  a seu canto e engoliu seus fantasmas de breu e sustenidos. Rangeu suas cordas podres e pensou ser famosa sem saber que é passado. Quis ter tudo para si sem saber que já não pode mais se definir. Veste-se no guarda roupas da mãe, e toma suco de ambrosia para não estragar a forma. Sua lápide foi a melhor que puderam pagar, mas para isso só viajam fora de temporada. Gosta de andar na moda, mas é do século retrasado. Chegou tarde e por mais que insista será sempre um fantasma. Rodopia com seus amigos igualmente sombrios e engole as sombras que seu espírito atrai. Sabe que pode comprar qualquer coisa mas esquece que não tem o mesmo sabor, ou recusa-se a lembrar. Sempre acaba voltando ao seu túmulo para um pouco de descanso, mas sua cabeça não para, está sempre planejando o próximo golpe. Simula sentimentos nobres para provocar a piedade, mas é constituída de ira e mesquinhez. Come grama enquanto espera o próximo milênio. Olhado rapidamente seu rosto é de jovem, mas já nasceu velha, seu corpo é de velha e enruga-se cada vez mais, até que seja novamente hora do ataque.

Alguns exageros são tão sublimes, e eu não haveria de ser um ser humano exceção. Somos todos diferentes mas não há exceção a regra maior. Não há superdotado, santo ou bandido. Somos todos igualmente humanos, e por vezes somos todos igualmente gélidos. Todo humano se revolta, se irrita e se recria. Todos às vezes fingimos uma face que não nos é recorrente. Todos nos agarramos a fatos que nos convém. Mas poucos de nós temos coragem de dizer: sim estou furioso! Sim estou furiosa! A mensagem foi captada mas não apreendida. Esse campo não é de batalha, é de flores, de colheita. Esse caminho é meu, conta a minha história, fala quem sou, fala dos que vejo passar enquanto estou com os olhos abertos ou não. Fala das coisas que filtro, muitas vezes sem nem bem saber de onde. Somos captadores, sou uma antena sem fio. A cura espiritual é uma entre tantas outras escolhas, meu bem. Eles giram sobre a sua cabeça porque você os atraiu para junto dela, e isso não fui eu quem disse. Se você ainda os vê, se sabe que eles ainda estão aí porque não muda para que eles possam ir. Sim, a vantagem do texto é se aplicar a qualquer um, mas não se enganem, não se iludam, não se coloquem no centro da máquina mortífera. Abram os olhos toda manhã e olhem pela janela, desliguem o computador e apreciem um pouco o mundo, apreciem um pouco tudo de maravilhoso que está ao alcance das suas mãos. Parem de comer os problemas no jantar, parem de virar a noite diante do computador. Apreciem, as coisas nascem na frente de vocês, elas crescem e se desenvolvem tão belas. Porque não sentamos e simplesmente absorvemos um pouco do mundo. Exercitem o silêncio, escutem a voz interior. Paremos agora de correr desesperadamente atrás de quem culpar. Vamos apagar a luz e meditar um pouco antes de dormir. Vamos nos livrar das drogas que consumimos para dormir e depois para acordar, para nos sentirmos felizes e depois para emagrecer pois a anterior engorda, para inflamação e depois para o estômago. Vamos nos sentir inflamados, vamos inflamar pelas maravilhas que vemos, que temos, ou que nunca teremos mas sabemos que são maravilhas. 


Porque não paramos um segundo, porque não vertemos um pouco sem responsabilidade alguma, pelo simples prazer de verter. Porque não nos reconciliamos primeiro com nós mesmos, depois com os que estão ao nosso lado, para aí sim atacarmos ou amarmos os que estão mais longe. Porque não paramos exatamente agora, basta de ataques ou desconfianças. Não adianta tentar descobrir onde está o problema maior, pois ele está sempre nos nossos olhos. Porque não nos purificamos no lugar de marcarmos reuniões para discutir o indiscutível. Porque não ouvimos simplesmente o que dizem nossos peitos, o que brota das nossas mentes, porque não absorvemos um pouco desse mundo sem tantos pré-conceitos. Podemos assumir que o bem e o mal nem mesmo existem, não um em cada ser. Temos os dois dentro de cada um. Olhe que estupidez julgar alguém que nem mesmo conhecemos, olha que idiotice a mãe que entra na escola e culpa o coleguinha que nem sabe o que está acontecendo. E por que isso acontece? São só crianças! Elas tem as duas potencialidades igualmente fortes, elas são o que ensinarmos a ser! Mas as mães estão cegadas pelas novelas que lhes ensinaram que de um lado está o bem e do outro o mal. Elas ainda não aprenderam que eles se misturam e convivem em um só ser! E que é normal que depois de um certo tempo alguém se canse, que alguém diga aquilo que muitos queriam ter dito.


Somos todos iguais, somos vulgares, ordinários, somos extremamente comuns. Eu já disse, eu repito. A alegria de estar misturado a essa massa indistinta, esse balaio de gato, esse emaranhado de almas, de sentimentos, de fumaça, de descrença, de fervor. E quando sentimos muito ficamos apavorados, queremos morrer, queremos arrancar o coração pela boca para não ter mais que sentir, nunca mais. Queremos que pare, só isso, queremos que pare de uma vez e não volte nunca mais, queremos que não doa mais, queremos não ter mais que acordar com os olhos inchados, as pálpebras vermelhas. Queremos não lavar mais os lençóis a noite, queremos não chorar mais pelas ruas. E por sentir tanto chegamos a pensar que era melhor não sentir coisa alguma então. Mas quando anestesiamos, quando deixamos de sentir, ai então repensamos tudo. Pois não sentir é como estar morto para si próprio, é como se não falássemos mais com nós mesmos. E se eu não puder me ouvir, se você não puder se ouvir, o que teremos a fazer então? Pular no pescoço do próximo macaco que passar e culpa-lo pela nossa eterna insatisfação, mas não sentimos, não podemos nem ao menos estar insatisfeitos.


Paremos um pouco então. Qual é o pavor da dor? Dói terrivelmente, sufocamos, não podemos respirar, não sabemos mais nem o que dizer, e subitamente tudo passa, depois tudo volta, e tudo passa, e tudo volta. E assim vivo em uma gangorra de sentimentos e sensações. Assim deságuo e ilumino em breves intervalos de tempo. Não adianta fugir disso. O pavor não salva ninguém de coisa alguma. Por isso só peço que me deixem viver minha vida, deixem-me prosseguir escrevendo, pois escrever é a única coisa que me salva, é a única tábua flutuando no meio desse mar. Não sei para onde ir, para todo lado que olho vejo a mesma coisa, água. Mas tenho essa tábua, e se continuarem a me cercear nessa tábua não me restará mais nada. As coisas belas são para ser mostrados, e o podre também pode ser contado de forma bela. Eu fico feliz, agradeço aqueles que lêem. Fico feliz em saber que as pessoas ficam tocadas pelo que escrevo, que depois pensam no que viram, que algumas até mudam suas atitudes em decorrência de determinados textos. Mas eu peço que ninguém se atire de precipícios ou me ataquem com cacos de vidro, pois então teríamos perdido nossa humanidade, teríamos esquecidos que somos ambíguos por natureza, e que cada um tem o direito de sentir a seu modo. Nunca menti para você, e também nunca disse que seria fácil. Eu sei como dói, já estou nessa faz algum tempo, já tentei esquecer tantas coisas que ainda me assaltam. Não tirem minha única tábua em meio a esse mar, pois então afogarei. E você saberá o que aconteceu, mas eu não, pois estou cansada demais para entender o que se passa, estou cansada demais para prosseguir em uma luta que não criei, não pedi para entrar, e não sei que propósito tem. 


Peço desculpas por me demorar, por dar voltas, por me perder e tentar me encontrar ainda na sua frente. Só peço que me deixem segurar a minha tábua, que me deixem fazer a única coisa que sei fazer. Só quero que me deixem continuar essa reza muda contida em cada frase. Deixem-me viver, não me afoguem nesse mar que eu mesma verti.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Voltar para a casinha

mais uma vez. Vamos fingir que somos normais, só um pouquinho.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Ainda é a vela, precisamos de ar. Sopro agudo e o professor avisou que vento não faz barulho. O que canta então? Será nosso peito distraído na escuridão? Pede, pede logo perdão e vamos embora antes que ele fale mais. Pega sua mala, as rodinhas estão quebradas. Rápido, vamos deslizar. Vela colorida agita no ar, agita o ar. Navegamos contra a maré, mas estamos a favor do vento. Estamos submersos mas nossa vela ainda brilha. Barco a fogo, mastro parafina. Esquece que somos dois a voar com a maré. Rápido, deslize por esses caminhos que inventamos, vamos chegar logo pois a viagem já dura muito tempo. Cuidado com o cotovelo na aresta, cuidado com o joelho e com a testa. Pegue aquele casaco quente pois pode esfriar no caminho. Vamos chegar antes das onze e aproveitar as últimas horas do dia. Vamos escutar o vento e esquecer o que diz aquele professor maluco. Vamos roubar sua peruca branca e esconder no baú florido. Vamos rápido antes que nos vejam. Esquece essa vida que nos segue, ignore estes ramos de erva daninha. Arrancamos um a um todos os anos e eles ainda crescem. Sabe que nada brota em mim sem que seja regado. Sabe que as flores brotam nas minhas orelhas, são brincos de princesa, e ainda assim continuamos plebeus. E é no vulgo, no indistinto e ordinário que fazemos nossa riqueza. Misturados ao todo conseguimos ser únicos porque erguemos as mãos quando sobe a maré. E somos tão únicos quanto todos os outros. É nesse balaio de gato que nos reconhecemos e miamos dengosamente um para o outro. Somos tão ordinários, temos nossos costumes ordinários e nossa vela ordinária. Acontece que cada vela só brilha para seu próprio dono, e por isso só nós sabemos para onde o vento nos sopra.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sonhos

Sentar novamente e esperar que uma fagulha de essência caia sobre mim. Essa noite sonhei com passados, voltei a um antigo hábito sem prévio aviso ou pedido de permissão, velhas aulas de dança agora em um sonho com lenço de lã no quadril. Uma piscina, um antigo... um antigo o quê? Sonhei com ele, mas acho que o que meu inconsciente mandava era uma ideia de ser, um alguém que pode nem ser ele, talvez seja o mesmo que já me visitou em outros sonhos. Por que volta agora, alma que não se concretiza. Reaparece e reaviva aquela velha sensação de que podemos nos reencontrar, e me faz lembrar de que é você quem eu procuro? Onde está então, na beira daquele mar onde eu espero e você termina seus estudos para poder vir me encontrar. O texto de cujo autor você só lembra o apelido e o primeiro nome, mas é belo de qualquer forma, é um amigo seu. Mostra-me à sua mãe, vamos ao seu quarto um tanto bagunçado e enquanto você arruma a cama eu escovo os dentes, almoçamos juntos e seu pai brinca de roubar knishes do meu prato, reparo que me agarrei ao fato de serem de batata e esqueci da salada. Entramos no jogo, e sirvo mais beterraba do que pretendia, quando vejo meu prato já está cheio e não sei com que garfo servir o alface. Você não fala a respeito e muito menos eu, mas espero que ainda lembre de mim. Você me abraça como quem lembra e quer matar saudades. Eu já acordei mas você ainda passa o dia a meu lado. Essa é a necessidade que temos de ter pelo menos um longo dialogo já que nos encontramos. E vivemos de reencontros breves para que possamos dizer até logo.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Velhas velas, vê-las gastas

Procurei entre os papéis amassados a melhor explicação para aquela nossa ideia infalível. E não encontrei, não encontrei. De que adianta explicar se a verdade está bem diante dos nossos olhos? Mas o que é a verdade para uma mente confusa. Depois de meio ano já não sabemos quem fomos, ainda não sabemos quem somos. Eu diria que não é mais preciso uma palavra, que basta de sorrisos ou abraços, que basta de ser ou deixar de ser. Eu diria que vá e não olhe jamais para trás. Eu diria que se cale para sempre. Eu faria. Se eu fosse. Onde estou? Esqueça!

Caí em um redemoinho e giro há meses. Em alguns momentos fico submersa na água, bato os braços e puxo o ar com desespero. Pisco os olhos com força, mas as imagens estão sempre embaçadas. Tontura sempre as 2 da manhã. Fome sempre as 6 da tarde. Jejum a vida inteira. Cavalos mancos, ferraduras velhas, espinhos secos, velas gastas. Talvez eu só possa parar os braços e pernas. Talvez só possa esperar que a água me leve ao fundo, mas lá a terra não é firme. Quem sabe passe uma grande fênix e me ofereça sua pata. Mas enquanto rodopio na água só posso rega-la com meus lamentos, pois tudo que vejo é igual a tudo o que vi.

Sim, eu solto teu braço. Solto também minha alma, e quando eu acordar ainda irei vazar pelos mesmos motivos, ainda estarei sentada sob a mesma goteira, os pingos gelados ainda serão regulares no topo da minha cabeça. Minhas fraldas ainda estarão atadas, agora um pouco mais gastas. Chegou a hora de parar a natação, pois todos podem ver como nado contra a maré. Teu veredicto foi dado, então me calo. Deixo que sequem minhas raízes nesse solo árido. Pois se não é assim a vida, a terra a girar em torno do sol, e ele indiferente a girar em torno de si. 

Nesses dias sem chuva seco e resseco. Nesses dias sem nuvens sou completamente nublada. Nesses anos sem pausa estou entre quatro paredes. A terra rachada e minhas raízes engaioladas por teu sopro gélido. Giro a meses ou terei sempre estado a girar? Sufoco e as velas estão gastas. Troco meus passos com os teus, mas agora sou água.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Hoje me releio e penso no que você disse, no que vocês disseram. Sei devo definir o que combinamos mas nesse horário meus olhos só querem repouso. Os ombros doem e sobem pela nuca, e a carência me faz choramingar nos ouvidos. Eternamente flutuante sem que o rabo preso me condene, pipanoar sem perder o prumo. Guardo sua dica, mas não sei onde. Vou reencontrar, vou me formular, vou desvendar esse mistério para poder partir para os próximos.

sábado, 2 de abril de 2011

Repetir a mesma frase até que ela esteja suficientemente suja e gasta. Gaguejar incontáveis vezes o mesmo nome até não ter mais certeza de quem é. Ganhar um lugar no céu pelo simples fato de nunca ter vivido. E deixar de viver repentinamente por ter se deixado inundar com os olhos ainda fechados pela cola do nascimento. Roupas, sapatos acessórios, um vestido novo, uma passagem para o inferno. E quando formaram as primeiras gotas de orvalho ele ainda contava histórias de monstros reformulados em cirurgias plásticas. As mãos macias sangram toda vez que volta o inverno, e os lábios cansados proferem estrofes batidas. Cacos podres compõem a estrada de maus sensos que leva ao centro de suas pernas, que faz com que eles se dobrem e doam toda vez que tocam o chão. Rupturas incompletas constroem falsos recomeços. Então reencontramos velhos amigos, a noite está nublada mas sabemos que as estrelas ainda brilham acima das ilusões de óbito. Nessa noite contamos nossos sabores, construímos com fio e cola, e pudemos até sonhar que somos capazes de ser independentes. Mas o sol sempre pode nascer com um pedido de não ter que acordar mais, e esse desejo já nos é velho conhecido. E ter que resistir a cada amanhecer pode ser duro demais para quem tem medo de fantasmas ainda vivos. Começamos a abraça-los em falsas confraternizações. Espero que em breve possamos ser apenas. Ele soltou a frase em meio a ventania e ela voou rodopiando até acertar um poste gelado e sentir penetrar e se espalhar pelo corpo cansado de tantas voltas. É chegada a hora de encontrar um ponto final, para que possamos virar a página e começar um novo capítulo.