segunda-feira, 30 de maio de 2011

Caboclos Voadores

Pipanoar por aí sem temer a pista de pouso, ganhar o ar sem temer as grandes ondas que estão por vir. Acreditar sem medo de dizer que foi ilusão. Encontrar os Índios protetores em sonhos de batalhas. Subir escadas pronta para o ataque e fechar os olhos enquanto o outro nos defende. Somos tão estranhas a nós mesmas, somos tão amigas e nos driblamos para ver quem domina. E cada domínio dura um certo tempo, até que seja hora de outra. Então nossas batalhas são frequentemente internas, e não menos inteiras. Somos tão fortes que a queda de braço leva dias, ou meses. Essa fraqueza que se espalha pelo corpo é decorrente da alma arrepiada por tantas caras na lama. Sim, os dias nascem e dormem consecutivamente, e nós tendemos a segui-los, renascendo e ressurgindo, cada dia com seu ideal. De repente cansamos de esperar e agimos de uma forma ou outra, logo após cansamos de agir sem obter respostas e paramos novamente. Rubras faces deitam com o frio de maio, esquentamos de dentro para fora. Até que de tão cheios venha a explosão e espalhados em mil pedaços possamos nos sentir completamente renovados e prontos para a próxima jornada.

domingo, 22 de maio de 2011

As patologias se acumulam e se complementam. Se tivéssemos uma cura para o nosso estado de espírito cobraríamos caro por ela. Nos repartimos em esferas diferentes para conquistar um sol que nem sempre brilha. Nos ferimos com navalhas enferrujadas e as infecções vão se espalhando por corpos cada vez mais deformados. Multiplicam-se ulceras por essas peles tão brancas por falta de luz. Desbotamos até ficarmos transparentes. Definhamos até virar pó. Nos cheiramos até estarmos tontos demais pela nossa própria loucura, nos embriagamos de lágrimas agridoce. E quando nos conectamos novamente não conseguimos nos despedir sem um tom de doçura. Esquece sempre o que diz, confunde-se em seus atos e ditos, mistura suas próprias ideias, e borra seus ideais com códigos pré-estabelecidos.

Nos misturamos em seiva bruta, nos alinhamos em códigos celestes, nos perdemos em estrofes vãs, nos iludimos com estranhos repentinos. Esculpimos nossas faces em pedras duras que depois lançamos de ribanceiras até que se choquem com um caminhão em alta velocidade e deixem de existir num breve suspiro. Sim, suspirava mas não era por dor, inspirava profundamente tentando tragar a vida que nos envolvia, mas fomos tolos. Ainda somos, e continuamos sendo por tanto tempo. Esquecemos de apagar a luz e quando vemos já é dia, não lembramos de dizer boa noite, ou bom dia, mas sempre pedimos que durma bem. Somos estranhos a nós mesmos, somos esquecidos, mas ainda sim lembramos de tantas coisas.

Erramos o alvo e ainda assim cantamos vitória vez ou outra. Escalamos montanhas para poder ver o sol por mais um instante, e passamos frio a noite inteira. Nos enganamos para driblar esses emaranhados, mas continuamos sentindo. Guardamos a ficha para o momento em que a saudade estiver mais apertada, e marcamos encontros sempre onde teremos vigias. Morremos sempre mais um pouco, até que possamos ressurgir em um trecho qualquer.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

vazou feito cola quente
Aprendi mais uma coisa, e mais outra, e oura. E será que aprendi? Vemos tanto, ouvimos tanto, sabemos tanto, e ainda sim somos tão ignorantes quanto anteriormente. Sim amigo, falar de amor é brega na maior parte das vezes, mas é só a maior parte das vezes, e como não dizê-lo? Pelo menos uma vez na vida à uma pessoa precisamos falar dele. Divida o que disse com alguns amigos. E das lições, a lição maior que tive é que não aprendi nada. Os desejos se repetem, as expectativas, as esperanças. Os dias seguem sua ordem e como alterá-la não conheço. Sofro mais hoje, e menos agora. Retomo esse esconderijo de cores e tons. Retomo essa vida ao lado dos amantes que me abraçam e carregam no colo. Obrigada por abrir a porta para que eu entrasse, obrigada por me chamar de volta, provavelmente eu mesma não conseguiria ter arrancado mais um sorriso sequer naquela hora. Mas você me fez ainda ter motivos para sorrir hoje, apesar. E apesar de tudo sinto esse músculo aqui mais forte hoje, depois mais fraco e mais forte novamente, acho que às vezes ele se cansa de bater. Às vezes me parece que ele continua igualmente burro, espero estar enganada.

Aquele novo rosto que surgiu parece tão próximo e logo tão distante. Talvez não deva ter futuro, só passado. O passado que já me serviu para lembrar que é possível. Gostaria que não discutisse por mim, obrigada por me defender, sinto sua carícia muito mais forte agora. Mas não se importe tanto com esse ser tão humano que erra como todos os outros. Perdoe-me por não amá-lo da forma que deveria ou que gostaríamos. Perdoe-me por não ter resistido um pouquinho mais, e por não permitir que me carregasse consigo. Não sei se posso dizer que acordei hoje, ontem tomei mais gotas para dormir do que de costume, mas ainda assim preferi sonhar do que dormir.

Queria que você conhecesse essa minha face, queria apresentar-me a você sem pressa de partir. Queria não precisar esperar sua resposta, gostaria de saber o que será. Mas não sei, e talvez nunca saberemos o que teria sido. Mas aguardo sua resposta. Minha mensagem foi lançada ao mar e agora aguarda que o do outro lado a encontre e responda. Sei que poderei jamais recebê-la, mas assim sei que enviei. Antes que pudesse dormir voltei a acordar a penas para dizer isso, apenas para avisar que não quis ser indiferente. Apenas tenho medo do monstro que há em cada um.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Enfrente

Não posso mais, o último fio que conectava ao todo se rompeu. As cenas se repetem, as frases são as mesmas, as farsas são as mesmas. A Dó maior de Si mesmo, procuro um Lar, um abrigo que faça sentido. Tento reconhecer as disformidades espalhadas em cacos de espelho, azar por anos. Chega de sermos tão infantis, recuso-me a ser mulher. Tantas tentativas vãs, a aposta maior para vermos que perdemos antes mesmo de virar a primeira carta, e o baralho já está gasto. Como quis acreditar que o veredicto estava incorreto, mas nada muda, corro atrás do meu próprio rabo. Ao final só me restará fugir para longe daqui, só me falta ainda o bom motivo. Andar de Ré é uma idiotice que cometi várias vezes. Escapa por entre as frestas aquele Mio inconsolável. Deixa de ser tola, sabia o que vinha depois. Agora não há mais motivos para voltas, o guerreiro infiel venceu seu desafio final. Agora só podemos ir enfrente sem cavalos ou diamantes.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Provocar

Nos provocamos em mil pedaços, nos partimos e repartimos, invertemos os sentidos, ficamos sem sentido. Me reutilizo, ando sempre na linha sem perceber que a corda é bamba.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O estranho som do vazio

Você me perguntou, vai escrever hoje? Eu sempre escrevo, mesmo que não pegue a caneta. Comecei aquela história...e hoje já virou ontem. Comecei aquela história que já guardava há meses, misturei as pequenas partes e comecei a construir com tinta e vazio. Sentamos e ouvimos o amante solitário dar seus vinte e quatro passos, você já deu os seus. Com os pés no gelo ele seguiu seu percurso por estradas estranhas, e nós o nosso. Quer saber a verdade? Ela ainda está se criando. Tive vontade de voar com ele e falar aquela língua estranha. Como lamentou pobre homem, como quis estar do outro lado onde a lareira estala a madeira. Como quis ele estar nos braços de uma desconhecida. Comecei a contar a história e vi que repentinamente virei ela, e o que poderia fazer, não sei se empresto meu corpo a personagem ou se ela me empresta sua voz. Eu poderia cantar junto não fossem essas feridas, eu poderia recitar junto não fosse essa minha mania de manter-me fora do tom.

Como quis poder contar do tombo, mas não lembro mais do caminho que percorri. Percebi que aqui e lá fiquei sumida pelo mesmo tempo, mas estive por outras partes, por onde desapareço sempre por mais tempo. Sou uma visitante esporádica, mas gostaria de me tornar mais frequente. As coisas andaram um tanto bagunçadas, uns somem inesperadamente, e outros insistem em reaparecer. Sou louca? É o que dizem uns poucos insensatos. Na maior parte do tempo sou humana, mas às vezes viramos bicho. E daí me encontro de patas para o ar.