sábado, 29 de outubro de 2011

Relâmpagos e tinta fresca.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

do dia 8 para o 28

Um copo de coragem e duas colheres de motivação para pintar.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Porque duvidar é muito pouco

Esquecer, porque lembrar é muito pouco.

Dormir, porque esperar é muito pouco.

Desaparecer, porque existir é muito pouco.

Partir, porque desistir é muito pouco.

Mudar de direção várias vezes, porque apenas um caminho é muito pouco. Desesperar-se no meio da estrada porque nunca soube para onde ir. Sentar sobre os joelhos com as mãos em concha sobre o colo como quem espera as migalhas caírem do céu. Despencar, porque viver pendurado é muito pouco.

Mergulho sempre mais, até que a luz fique pouca, e nem sempre sabemos voltar, e quando voltamos nem sempre lembramos onde estivemos. Deitar na cama macia, porque o calor é muito pouco. E acordar várias vezes ao dia como quem se recupera daquela profundeza. Criar uma nova rotina, planejar uma nova vida. Prosseguir, porque sempre é muito pouco.

Olhamos um texto pronto e descobrimos que estava inacabado, olhamos um texto inacabado e descobrimos que estava pronto. Faço uma pausa, porque continuar é muito pouco. Largo da barra da tua saia, porque aguentar é muito pouco. Vivemos de uma nova forma, porque manter é muito pouco.

Invento o tempo, invento nossas meias sujas sobre o tapete. Tampo o nariz e a boca enquanto olho pela janela. Imagino o nado sincronizado, porque tenho medo de sufocar. Suponho, crio várias hipóteses, porque preciso estar sempre prevenida. Mas então abro os braços e me jogo da janela. Mergulho, porque observar é muito pouco.  Ferir-se, porque planejar é muito pouco.

Tampa o sangue que verte do nariz, debulha o milho que distribui para as galinhas. Canta pequenos trechos de cantigas desordenadas que guardou na infância. Assoa o nariz na manga da camisa e inventa seu próprio ditado popular, porque repetir apenas é muito pouco. Criar regras próprias, porque respeitar apenas é muito pouco.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Boa sorte (para mim)

Repentinamente tenho medo do simples artefato que pode separar o mundo da água. Sorrio intuitivamente para pequenos detalhes e me aquiesço por eles. Sim, as horas passam muito de pressa e quando vemos já é outro ano. E às vezes o ano ainda nem mudou desse lado aqui e nós já mudamos. Não lembro mais o que eu pedi para esse ano, mas espero que tenha feito bem. As marcas são estranhas e flutuantes, não existem pequenas maquinazinha registrando os caminhos que percorremos mentalmente. Gostaria de fazer outra coisa, mas me sinto induzida a continuar. Você sabe muito mais do que eu, e ainda assim devo ensinar alguns caminhos. Será que aprendi mais com cada passo. Talvez tenha aprendido até mesmo com os passos apenas observados. Meu diário se tornou esporádico e já nem lembro mais de anotar as coisas que julgava necessárias. Temos fome um do outro todos os dias, e nos alimentamos das nossas próprias carnes.

Subimos montanhas até que estejamos bem alto, e aí então descemos novamente. Sua imagem está gravada na minha janela, fica sempre presa por detrás de cada novo ato. Sinto saudades de me perder por entre as linhas escritas por estranhos que vão logo se tornando amigos íntimos. Sinto saudades de assistir seis filmes em uma tarde e não sentir a menor culpa. Sinto saudades de simplesmente engordar e simplesmente emagrecer. Mas não sinto a menor falta de sentir falta. E de repente nem me importo de sentir falta de todas essas coisas,  e de repente elas deixam um vazio enorme. Porque repentinamente eu perdi o equilíbrio, meu centro magnético. Subitamente perdi aquele fio que me ligava diretamente não sei a que. E que sem perceber me fazia ficar fora por instantes, mas era uma viagem de dias.

Sinto falta de tantas coisas, de fazer e de sentir, e repentinamente sinto falta de nenhuma delas. Esqueço de esquecer e então já nem lembro mais. Mas lembro que deveria apagar e vou relembrando lenta e dolorosamente. Sou um mar em fluxo e refluxo, sou em todas as direções. Sou uma onda que vira espuma branca e se desfaz nas profundezas. Sou o ir e vir de um pêndulo solto no ar, e quando menos espero me choco contra a sua parede. E então... esqueço.

Guardo palavras, informações, detalhes o dia inteiro. Guardo referências e opiniões, quando chega a hora de dizer, quando me deparo com você, então eu esqueço. Peço ajuda, falo de uma aflição ou outra, tento rastrear teus passos, e desisto, e me proíbo. Estou proibida de ligar antes das onze, estou proibida de me irritar antes das três, não devo chorar antes das cinco, e nem pensar em acordar antes das oito. Roubo pequenas amoras laranja e encho sua boca. Seus olhos me fitam arregalados. Bebemos do líquido amargo enquanto colorimos as nuvens. Nem sempre foi assim, nem sempre fomos quem somos. 

Nem sempre acordei feliz na quinta, nem sempre segunda feira foi o pior dia, nem sempre final de tarde de domingo passou despercebido. Nem sempre, e agora sim, e que diferença faz? Qual é a diferença que faz, é o que eu gostaria de saber. E de todas as diferenças que faz, qual eu sinto mais? A qual me apego, de qual me desfaço, e quais eu torno amigas. Você é a diferença que faz porque eu deixo que faça. E você é para você e eu sou para mim, e nós somos para o mundo, e somos o mundo, estamos no mundo, e repentinamente saímos dele e voltamos. Nós flutuamos cada um a seu gosto, a seu modo. Lentamente ou a jato. Somos foguetes, relâmpagos e plumas. Somos pernas, braços e línguas. Propagamos. Pagamos, apagamos e ressurgimos.

São os planos, são tantos e como saberemos? Só sentando sob a sombra de uma árvore frondosa e esperando o tempo passar. Mas para que ele passe mais de pressa criemos um pouco de diversão nesse meio de caminho. Hoje não durmo, mas amanhã ainda acordo, volte logo e diga qual é a resposta. Ainda somos, ou uma volta nada mudou.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Submarino

As caretas moles e fedidas me olhando de dentro da água preenchem meus ouvidos com seu barulho em queda. Sempre preferi o silêncio para escrever, mas hoje subo as escadas de dois em dois degraus. Compramos um par de toalhas na promoção e você me disse que preferia as perfumadas. Por isso compramos amaciante, do mais caro. Às vezes jogamos pedras no rio e tentamos ver se elas quicam... mas não tenho a habilidade. Assoo o nariz na barra da sua camisa, nem sempre foi tão "auto". Às vezes erramos por querer, tem vezes que telefono no meio da noite, tem vezes que é você. Troco de canal, paro a música, escuto atentamente o avião que passa para certificar-me de que não está em queda.

Sempre vejo duas crianças que vão de mãos dadas para a escola, mas nem sempre vejo quando voltam. Semana passada jogávamos, agora fazemos planilhas. No sábado caminhamos no parque e você fala o nome dos pássaros, encontramos um ovo vazio e deixamos onde estava. Por um tempo passeamos escondidos, depois não passeamos mais, e agora tanto faz. Se não der passeio, filme e pipoca doce.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Profusão


Essa profusão foi me profundindo e eu acabei ficando muito profunda. Nas profundidades da profissão de ser profusa pensei nos aprofuzamentos dos profusos moradores de celas estreitas. Pensei na profusão das ideias e dos cadarços nas ruas. Levantei profusa, comi uma profusão de saladas e fui dormir na profusão dos sonhos. Olhei para o lado e vi a profusão das molas dos meus cadernos, e quando encostei no meu amigo pensei na profusão das bactérias e logo me atirei a profusão de carros parados no sinal, se aglutinando e se desaglutinando. Aprofundei-me nas profusões e quase afundei.

Gosto das profusões de Alices e jardins, pétalas e mais pétalas, gramas e mais gramas. Profusão de janelas e rodas, linhas e voltas. Tudo isso em infusão por 5 minutos. Escrevo isso no intervalo da profusão de meus triângulos e digo-lhes até breve.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Se todos fossemos azuis do que seria feito o céu?

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Hoje não quero sair

As pessoas tem suas preferências, seus desejos, fazem suas escolhas. Nem sempre vemos tudo de forma clara. A vida foi atingindo patamares diferentes de realidade. E nós podemos viver tantas vidas quantas escolhermos. Mas eu sou um ser burro e inadequado, não sei conviver com essas fragmentações de espaços e sentidos. Para mim não importa de que forma entramos em contato, mas o que dizemos. Hoje eu ouvi e não respondi. Agora entendo o que tinha a dizer, e as palavras vêm tão velozes e desordenadas que saem feito água sem fazer sentido.

Houve um tempo em que eu esperava passar.

domingo, 9 de outubro de 2011

Domingo

Esta manhã acordei cedo e logo pensei em futuros diversos. Tentei falar com clareza por inúmeras vezes, mas sou uma viciada talvez. Antes de acordar eu tinha fome, agora tenho vontade. Arredar os móveis, passar aspirador de pó, olhar o horário e me perguntar se os vizinhos ficarão muito ou pouco incomodados. Reencontrar as doses homeopáticas perdidas.

sábado, 8 de outubro de 2011

E eles se vão

Todo ano recomeça e os  pedidos se repetem. Hoje pedi para deixar nossos passados. Todos nós erramos. Hoje não era um bom dia para brigar ou fazer bolo de chocolate e ainda assim fizemos. O que vale é a intenção? De qualquer forma não tive fome. Devia ter ido ver você e passar o dia olhando o sol. Roupas soltas, corpos estendidos pelo chão. Colhemos nossos frutos. As paixões são tão vagas e ainda assim seguimos atrás delas com intensa dedicação, tem horas que pensamos nem ser tão capacitados assim, mas uma hora ou outra alguém nos lembra de continuar tentando. Hoje não tive fome e não comprei um caderno novo. Agora o dia já muda para alguns e eu continuo sem fome e sem caderno.

As melhores soluções costumam estar sob nosso nariz. Hoje acordamos e o dia estava fresco, esquentou e refrescou. Quase nunca chove. Teve épocas que chovi muito, hoje geralmente tem alguém para segurar quando escorro. Somos bestas. Sempre somos melhores do que alguém, muitas vezes somos melhores do que todos, e geralmente não somos bons o suficiente. E ainda assim continuamos lutando por aquele troféu inexistente. Hoje tento voltar ao ponto zero. Peço por ajuda, meu desejo não é esquecer, mas compreender. Compreender os outros é tarefa vã, tento compreender-me e aceitar minha própria ira. E desta forma colocá-la no lugar adequado para que seja eu quem comanda. Para que eu não sucumba aos fantasmas e possa ir adiante sem guardar listas negras.

Hoje eu acordei e ainda era ontem. Não tive fome e desejei perdoar. Rezei para que assim fosse. Gostaria de ser mais forte, mas aceitar é o meu fraco. Não comprei um caderno novo, mas posso terminar de construir o meu. Hoje eu crio mais um começo. Agora eu me sinto grata.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sobre um fim

Meu caderninho acabou, preenchi até seu último espaço vazio e não tenho dinheiro para comprar um novo. Nesse caso acho que devo usar as páginas virtuais mesmo. Os caderninhos, quantos eles são ao todo? Perdi a conta, talvez sejam quatro. Por vezes corro sobre suas folhas com maior velocidade, às vezes mais lentamente. A verdade é que os ocupo sem uma regra preestabelecida. Por quanto tempo me perco entre suas folhas contando as novidades do tempo, e quem mais me aguentaria por tanto tempo? Sim me suporto por anos, me aceito consecutivamente e vou aprendendo a deixar as discussões para quando a festa acabar. Mas repentinamente me debato nessa muralha sem escadas. Lembro-me do velho que desejava fugir da própria casa. Quanta loucura em cada degrau. Jogue suas tranças. Enquanto me debato nesse espaço turbulento a carcaça para a qual olham fica estática e olha sem vida para o nada. É normal que perguntem o que houve, os veteranos já evitam contato. 

Tudo é na verdade muito simples, tão simples que demoramos anos tentando entender, e ainda assim ficamos um pouco em dúvida. O que dizem parece tão real, mas cada velha imagem guardada faz retomar uma dor. Os curativos são bonitinhos e decorados, mas as feridas que eles cobrem em sua maioria ainda sangram.

Meu caderninho acabou, liguei para pedir um novo, mas o telefone não atende, eu mesma não tenho dinheiro. Pensei em um caderno que eu mesma fiz, mas ele é muito grande, não seria um caderninho. De qualquer forma esses cadernos devem ser pequenos e rápidos de usar, não devem durar mais do que oito meses. Eles guardam muitas coisas e se tornam pesados, por isso devem durar pouco. Sinto falta dos dias em que escrevíamos compulsivamente sentadas à mesa de vidro. Isso geralmente quando eu podia ficar completamente só, e sabia que ninguém aguardava por mim, na verdade acreditava que não se importavam.

As pessoas falam coisas estranhas, parecem nem ser as mesmas que um dia vimos. O mundo alheio é sempre muito estranho se não vivemos de forma semelhante. Às vezes há coisas que podemos entender, outras vezes as coisas são muito difíceis de aceitar. Eu hoje tento compreender certos passos meus ou seus, tento deduzir, e de repente tenho a brilhante ideia de simplesmente perguntar. Talvez fosse algo como ler o livro da própria vida escrito por outra pessoa. Era isso que eu pretendia, você pode falar como  vê a nossa vida? Geralmente nos surpreendemos. As surpresas costumam ser boas, ou esclarecedoras, isso quando não são as duas coisas juntas.

Meu caderninho acabou e agora preciso de um novo. As lojas já fecharam, eu não gostaria de ganhar como um presente, a menos que você me permita escolher. Preciso de folhas novas, preciso de um caderno novo, com espaço para ser ocupado. Esses cadernos sempre pesam depois de um tempo, por isso não podem se prolongar muito. O primeiro deles foi o mais diferente, acho que ainda não havíamos definido nossos procedimentos, e até hoje tentamos reorganizar. A verdade é que não adianta. Eles tomam a forma que bem entendem e eu que corra atrás. Nossa ordem foi definida ao acaso e nos reorganizamos a cada temporada. Os projetos se espalham por essas peças separadas, e quem sabe uma hora ou outra tomemos coragem para realizar alguns deles.

Você me fala como será amanhã, e eu ainda nem entendo o que temos hoje. Os dias se espalham por camadas disformes, subimos e descemos em busca dessa liga. Esqueço a janta, preciso de um caderninho novo.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Desabafo de uma carta queimada

Desapareço novamente, e dessa vez nem houve uma justificativa clara, nem um motivo prévio. As coisas vão acontecendo todas muito mansas, fico calma por um tempo prolongado, e hoje o dia se espalhou de diferentes formas. Já nem sei mais que caminhos nos levam. As certezas são grandes bolhas instáveis prestes a explodir. Como posso acreditar na exclusividade do corriqueiro. As visitas são mais frequentes agora, e eu andei distante por tanto tempo. Diria que ainda nos visitamos para tomar chá, mas isso não acontece mais. Você trancou a porta e me pediu para que não voltasse, eu como pessoa obediente que sou aceitei, mas como insistente que sou fiquei observando de longe. Me apaga, e guarda com carinho todos os outros. Esquece-me todos os dias mais uma vez, e como poderei saber qual é a verdade, se minha visão é curta?

Nos trancamos em cofres escuros e apertados enquanto os inimigos voam soltos dando risadas idiotas. Os outros riem do seu riso infantil. Tem coisas que não consigo explicar, talvez nem devesse saber. Acordo geralmente ainda um pouco cansada, frequentemente ainda muito cansada. Tem dias que nem acordo. Há noites que durmo de jaqueta. Houve um tempo em que tapava as orelhas, hoje procuro abrigo em qualquer canto. Por muito tempo pensei, e tive que me contentar com isso, por certo tempo tive que calar a boca e segurar as mão atadas até que algo acontecesse. Por certo tempo tive que defender o inimigo e na primeira oportunidade ele me agrediu em voz alta e risada falsa. Seu medo se revela em pequenos gritinhos de ódio. Eu já nem penso mais em certas coisas com a força com a qual pensava antes. Parece que o hábito é terrível, que ele me prende a uma rotina de relembrar, de refazer, de perseguir os vestígios tentando construir os traços desconhecidos e delinear os futuros, como quem desenha essa história sem narrador.

Quem narra? Cada um narra a seu modo, e minha maior tristeza é não poder prever.