segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O seu rostinho surge aos pouquinhos do outro lado da janela. As pontinhas dos seus dedos já branquinhas de tanta força, seus pezinhos nas pontinhas, não os vejo, mas deduzo. Você uma pessoinha toda lindinha, cabelos ao vento, carinha de sono. Sonho com os seus olhos grandes, mas agora que os vejo percebo que são ainda mais lindos no seu rosto. Menina pequenina, de vestido floral, se estica na janela para ver o que há aqui dentro, eu na cadeira de balanço não preciso inclinar para saber o que há lá fora, uma barriguinha que ronca com fome de bolo com cobertura de chocolate.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Volta ao texto

As palavras ficaram em suspensão tentando assentar aqui e ali, mas o papel tinha farpas que repeliam suas finas escamas. Até que essa manhã enquanto olhava o menino careca com suas roupas sociais, agarrado aos joelhos, sentado no canto do porta-retrato fazendo esforço para caber ali dentro e ao mesmo tempo cobrindo os olhos inchados com as pernas, pude sentir as cordas sendo arremessadas e começarem a laçar as palavras. Não digo que não seja doloroso o primeiro contato, as farpas perfurando as escamas quase que num golpe só. E elas foram se fixando aqui e ali, até formarem um conjunto indissolúvel, até estarem suficientemente conformadas e as farpas já não serem mais necessárias. Elas foram sentando ao redor do menino, formando o seu jardim e emprestando suas cores a ele. O menino desbotado foi ganhando vida e correu pelo caminho ensopado para fora das molduras do retrato. Ele chegou a milhares de encruzilhadas, mas jamais parou seu movimento, pois já conhecia o destino de estar emoldurado.