tag:blogger.com,1999:blog-7473910831137203052024-03-24T20:32:31.722-03:00Pipa no arEspaço para novas coisas velhas, velhas coisas novas, coisas novas, velhas e de meia idade.Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.comBlogger228125tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-21652314526678330192023-11-27T16:48:00.005-03:002023-11-27T16:48:53.142-03:00Sono longo<p> Acordei e ainda era noite. O peso das cobertas não trazia conforto suficiente para contrabalancear o medo persistente do pesadelo. Essas memória se dissipam com certa rapidez. Logo não sei exatamente qual era o enredo que me provocou tamanho espanto. No entanto, o susto permanece. O corpo inteiro comunica o pavor do que vivenciou minutos atrás. A sensação não passa. É necessário mudar a posição, virar para o outro lado. Como quem troca o canal, busca uma nova programação, um novo espaço, uma nova memória.</p><p>Essas histórias poderiam ficar bem gravadas na minha memória. Não ficam, creio que, em partes, por uma opção de esquecer o pavor da noite. Mas ainda é noite. Uma noite longa que dura muito mais do que deveria. Em alguns momentos parece que vai amanhecer, quando descubro que era apenas um luz acesa na casa vizinha. Ela logo se apaga, o morador volta para a cama. Todos dormem, menos eu e o cachorro assustado que comunica suas ideias para qualquer pessoa. </p><p>Aquele latido em específico já se tornou um lembrete do terror noturno. Em qualquer lugar, a qualquer hora. Agora já sei e afasto essa ideia. Tenho afastado muitas ideias ultimamente. Talvez seja precisamente por isso que venho aqui contar. Como se estivesse tirando da frente cada caco desses. Para não voltar a pisar em superfícies que machucam sem a necessidade.</p><p>Movendo-me assim no escuro, penso que fiquei por muito tempo parada. Acontece que, quando há qualquer lampejo de luz, percebo que já estou muito distante do ponto de partida. Essa imobilidade aparente, a sensação de não estar no marco estabelecido por alguém, são os fatores que provocam o desespero. No entanto, ao perceber que o movimento sempre existiu, mesmo que não seja constante, traz um certo conforto. </p><p>Espero que nos próximos dias possa existir alegria no que foi feito. Independente do que seria ideal. Com base no que é possível e no peso que foi sendo levado junto. Isso porque não é possível despejar toda a bagagem de uma vez. Ainda assim, espero que ela seja cada dia mais fácil de ser carregada.</p>Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-4682315328090564662023-07-28T11:11:00.001-03:002023-07-28T11:28:29.944-03:00Pendurados<p> O mural estava cheio de papéis afixados. Eles farfalhavam com o vento a cada nova brisa. O dia estava assim, suave. O sol parecia iluminar na medida certa, o tempo estava mais seco, as plantas bem verdes e o riso das crianças entrava pelas janelas. Tudo estava em paz, com exceção dos papéis a se debaterem no mural. </p><p>Decidiu se aproximar, pegou uma pequena folha amarela, arrancou e trouxe mais próxima dos olhos. As letras eram pequenas, muita informação para pouco espaço. O redator da mensagem sabia disso desde o início, pois se ocupou em aproveitar bem o espaço. Tinha pressa, mas tomou cuidado com o que dizia. Era importante que fosse compreendido. Ainda assim, deixou a informação e partiu. Pelo visto, já tinha algum tempo. </p><p>Com quem falava? Talvez ninguém em especial, só precisava deixar a sua mensagem ali, onde as pessoas pudessem ver. Ninguém em específico, todo mundo se possível. Não assinou, não desejava ser lembrado, queria apenas que as suas palavras fossem. Um viajante de pouca bagagem física, mas muitas memórias. Deixou o gato sozinho em casa e precisava retornar logo. </p><p>Os papéis continuaram a chamar por ela, queriam ser lidos, queriam ser levados embora e também queria seguir sendo vistos. Queriam estar ali, mas também com quantas outras pessoas fosse possível. Deixe-me aqui e me leve na sua memória. Guarde a minha mensagem, não a minha presença. No entanto, ela não podia resistir, não era possível lembrar tudo. Pegou algumas daquelas mensagens com gestos rápidos e guardou nos bolsos. Baixou a cabeça e saiu, sem se despedir de ninguém. </p><p>Nos próximos dias, se dedicou a fazer reproduções. Repetiu cada vírgula, compreendeu cada mensagem. Ela também queria que mais pessoas soubessem daquela beleza, daquela grandeza, das inúmeras possibilidades. Tanto repetiu aquelas palavras, que foram se tornando suas também. Foi se fundindo ao papel, foi se misturando à tinta da caneta, foi virando conto, romance e biblioteca. Tanto se misturou, que se espalhou por uma biblioteca inteira. Agora, quem procura por ela, encontra milhares de palavras. Alguns a veem como drama, outros como comédia e há até quem a entenda como uma abraço amigo depois de um dia difícil. </p><p>Ela não se importa com isso, está muito ocupada sendo. Quanto mais pessoas a conhecem, maior ela se torna. Quando ninguém regressa, ainda assim ela está ali. No entanto, por mais tempo que fique sem ser visitada, eventualmente alguém diz: lembra daquela... como se chamava? Aquela que era poesia e se foi com o vento.</p>Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-31610473254550879142023-04-26T11:02:00.000-03:002023-04-26T11:02:00.915-03:00A planilha<p> Pediram para que eu me dividisse em células e colunas, acabei me perdendo entre abas. </p><p>Será justo pedir para que alguém se divida assim? Tentei voltar ao fluxo, me organizar em rizoma, deixar o rio fluir por entre as páginas e me negaram a alternativa. Pedi para voltar a ser quem era, mas isso não é possível. Nós vamos nos transformando. </p><p>Peguei uma folha e tentei dizer o que sentia. Fui descobrindo aos poucos que precisava da liberdade de não precisar. A obrigação colocou tantas amarras no caminho que logo tropeçava a cada duas palavras. É necessário pular, voar, desviar. A criação tornou-se tropeços até que pode encontrar o espaço de voo novamente. Acontece que ainda não sei se ela consegui de fato e por completo. </p><p>Por vezes me pergunto que controle eu tenho de fato. As coisas parecem acontecer conforme desejam. Se eu colocar uma coleira e tentar levar para passear, a criatividade senta sobre as patas de trás e me olha com cara de quem manda aqui. Ela é como esse animal parcialmente domesticável. Ela olha para as planilhas e prazos e se recusa a sair para brincar. </p><p>A sua casinha é quente e protegida, ela come o que lhe apetece e às vezes até nos sorri quando menos esperamos. Ela quer calma e tempo, se deita em um canto e assiste enquanto todos se arrumam para sair. Vou me deixando ficar para trás, na expectativa de que ela queira me acompanhar.</p><p>Às vezes ela me chama para brincar quando estou sem tempo e tem dias que ela me cutuca e quando olho já não sei aonde foi. A criatividade exige dedicação, tempo e paciência. Ela pede que a gente traga alimento: cultura, passeios e experiências. Se ela fica faminta vai deixando de trabalhar e passa a procurar conforto em outro lugar.</p><p>A criatividade gosta do equilíbrio da corda bamba e salta em camas elásticas de pés descalços quando ninguém está olhando. Ela chama pelo seu nome e se você ignora muitas vezes ela deixa de chamar. Depois disso, é necessário fazer uma limpeza nas ideias que entupiram a passagem, até poder reencontrar o seu fluxo. </p>Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-68683393821434459152022-11-14T09:32:00.001-03:002022-11-14T09:32:38.134-03:00Transformação<p> O dia amanheceu preguiçoso. Parecia impossível prosseguir. Será que o relógio já despertou? Sim, mas tudo estava esquecido. Em uma variação entre estar bem acordada e totalmente sonolenta, fui tomando consciência do dia. Às vezes é mais difícil seguir e, no entanto, não é possível parar. A vida se bifurca e resta tirar o melhor de cada momente.</p><p>Eu queria começar ligando para você, conversar um pouco enquanto tomo uma xícara de café. Mas você está indisponível. Queria entender onde errei, quando deixei que escorresse entre os meus dedos. Fato é que nunca esteve ali. Seus planos talvez tenham sido sempre diferentes dos meus. Acontece que não tenho como saber ao certo, porque nunca me dei ao trabalho de perguntar. Falha minha.</p><p>Pensei saber aonde ia, o que estava fazendo. E, no entanto, não sei. Achei que tinha algum controle. Mas essa é apenas uma ilusão para justificar a solidão. Seus tentáculos foram me envolvendo tão lentamente que nem percebi quando fiquei totalmente envolvida.</p><p>Acontece que nos acostumamos a tudo. Até acordarmos repentinamente desse estado e percebermos que não é permanente, ou ao menos pode não ser. Nós usamos essa palavra: normal. Mas, afinal, o que é isso? Creio que é aqui que determinamos ser. Só que assim deixamos, às vezes, de valorizar o excepcional ou nos acostumamos ao que é desagradável.</p><p>Você pode me dizer que nem sempre conseguimos mudar o estado das coisas. Concordo. Mas esquecer que podemos ao menos tentar, pode não ser o melhor caminho. Estou acordando. Sinto os primeiros raios da esperança baterem na ponta dos meus dedos. </p>Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-6383576816827662952022-10-31T17:24:00.000-03:002022-10-31T17:24:16.089-03:00Por que a produção?<p> Criar inclui um pouco de dor. Eu me pergunta o motivo disso. Acho que em certa medida é porque entramos em contato com a nossa própria dor. É dela que extraímos esse produto que alguns ousam até chamar de arte. Mas nem sempre é. E acho que a beleza é justamente essa: não precisar ser. Porque se precisássemos ser sempre belos, ficaríamos engessados. Pergunto-me se seria possível produzir assim. A resposta não é absoluta ou igual para todos. No entanto, creio que para mim seja sim.</p><p>As amarras da beleza prendem esse impulso de seguir fazendo pela simples necessidade. É como se todas essas ideias fossem se empilhando. Se não colocamos elas nos mundo, criam uma espécie de represa ainda mais dolorosa. Fica impossível saber exatamente qual é o sentimento, porque o pesar de cada criação contida é sentido simultaneamente.</p><p>Ainda assim, me pergunto: por que criamos? A princípio pela simples necessidade. Mas faz sentido se ninguém tomar conhecimento? Pode até parecer vaidade e, no entanto, me pergunto se é. Penso que, talvez, não faça sentido criar se nunca alguém puder ver.</p><p>Criar é uma dor, mas também é o alívio. Então, se torna quase um vício. Um analgésico de duração muito curta. Começo assim a questionar qual é o limite. Se posso perder a noção de quando parar. Saber colocar o ponto final no lugar certo faz parte da beleza e do sentido. Uma ideia sem ponto pode se tornar um emaranhado de palavras sem significado. Tem dias em que pareço não encontrar mesmo o meu ponto final.</p><p>Abro uma caixa antiga em busca dessa informação e me perco entre tantos recortes de jornal. Por que guardamos essas histórias? Elas nos definem até certo ponto. Apenas até certo ponto. Depois disso, é o sentido que damos ao que foi vivido. As histórias vão tomando novas formas e parecem ganhar vida própria, em certos casos. Não há controle, de fato, sobre o que anda por aí.</p><p>Levando isso em consideração, talvez a questão seja apenas seguir fazendo porque é necessário. Talvez a liberdade esteja, de fato, em pensar que nunca alguém tomará conhecimento. Mas a motivação está na esperança de que, algum dia toque alguém. E é nesse misto de liberdade esperançosa que é possível seguir.</p>Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-16177976496897459492022-10-27T17:42:00.001-03:002022-10-27T17:42:17.119-03:00Só por um instante<p> Parece ter chegado aquele momento em que dou uma passada por aqui. Como naquela casa de férias, para a qual nem sempre temos tempo, mas sempre nos acolhe. Ela me aguarda, com as memórias que eu não deveria deixar, ou aquelas que eu não poderia carregar sozinha.</p><p>Nos vemos novamente, sento diante do espelho e pergunto: qual dessas sou eu? Passo por algumas memórias e quase lembro de quem eu era. No entanto, em certo ponto, quando volto mais atrás, parece que encontro quem eu gostava de ser. Ao longo do tempo foi inevitável assumir novas versões. Agora, tento decidir qual será a próxima.</p><p>Pergunto-me se você segue junto ou fica por aqui. Acontece que certas memórias são caras demais. Ainda assim, não têm valor de mercado. Por isso, seguem guardadas em uma estante empoeirada, ocupando espaço demais e, ainda assim, falta espaço para elas.</p><p>Abro a janela para o dia ensolarado e vejo as nuvens pesadas se aproximarem. Parece que o nosso tempo acaba rápido demais. Pego uma pequena caixinha e escondo sob o casaco. Esse será o meu alimento ao longo da jornada. Na expectativa de que o retorno seja breve. Mas, principalmente, que o acolhimento não se restrinja à casa de veraneio. </p><p>Espero que ao abrir essa recordação, possa encontrar um caminjo que faça sentido. Mas eu volto. Por ora, fecho tudo as pressas e sigo. Vou na expectativa de não ter deixado nada meio aberto. Espero que no meu regresso você esteja pronta para me receber.</p>Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-786934012537409302021-02-20T11:49:00.000-03:002021-02-20T11:49:12.174-03:00As bagagens pelo caminho<p> De repente sinto uma intensa vontade de voltar a ser eu mesma. A estrada foi dando voltas. Deixei a bagagem em um determinado ponto para voltar mais tarde e pegar. Mas me perdi pelo caminho. Já não sei mais como volta. Então percebo que aquela bagagem pesando no caminho era parte de mim. Deixei de ser quem eu era, assim como deixei a bagagem naquele ponto da estrada.</p><p>Você já se perguntou em uma manhã silenciosa e ensolarada: quem sou eu? Depois de tanto tempo tentando ser quem sou, acho que percebi ter me tornado quem não sou, de fato. Acho que podemos assumir tão veementemente um papel, que acabamos acreditando mesmo nele, ou simplesmente esquecendo que vivemos essa representação. Há pessoas que são mais fáceis de ser, nesse mundo, para outras é mais difícil. Existem certas coisas que simplesmente precisamos fazer, para alguns é bom, para outros está além daquilo que é natural.</p><p>Em geral, ser quem é não basta para as pessoas. Mesmo as aparentemente mais felizes e realizadas de repente sentem que não estão felizes, ou que não foi suficiente. Todos precisam assumir, em certa medida, coisas que não fazem parte de quem são. Isso certamente não é um problema. Problema é quando o mundo não valoriza nada do que elas são e exigem o que elas não são. É como se um ser que voa maravilhosamente bem fosse apenas criticado por não saber nadar, sem ser valorizado por saber voar.</p><p>Nessas horas o mundo se torna um pouquinho mais cruel. Então, depois de uma noite se afogando em salgadas águas, nas quais você não sabe nadar muito bem, na manhã seguinte você levanta voo e vai para o topo da sua montanha. Lá só ha você, o sol, o silêncio e a vista do mundo lá embaixo. Lá é possível procurar aquela bagagem em algum ponto da estrada. Quase consigo ver onde ela está, mas ainda não consigo resgatar aquilo que me pertence.</p><p>Mas tem bagagens que devem ficar pelo caminho, aquelas que só pesam sem agregar, você me diz. Concordo. No entanto, não podemos deixar, por isso, aquilo que nos torna quem somos. Essa é outra etapa do processo. </p>Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-75241961096808937872020-02-23T11:29:00.000-03:002020-02-23T11:29:00.457-03:00Em um momento de silêncio as coisas começam a mudar sozinhas. Mas o susto me faz retomar a consciência e perco aquele pequeno avanço. O que tinha em mente, ou qual era a descoberta, são questões que tento responder. Rapidamente tento retomar o estado em que me encontrava. Não consigo.<br />
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As ideias vão se sucedendo e não me prendo a alguma delas. Os pensamentos correm livremente enquanto me distraio com qualquer coisa. No entanto, a retomada de consciência interrompe tudo. Com frequência perco aquela informação precisa.<br />
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Os fluxos de consciência funcionam de um jeito estranho. É preciso deixar correr e muitas vezes eles fogem também. Corremos atrás de ideias, pequenos fragmentos do que tínhamos em mente. Eu não saberia dizer que percurso estranho é esse. Mas é preciso continuar traçando essas linhas, até que algo faça sentido.Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-40703216552395483242020-01-01T14:40:00.002-03:002020-01-01T14:40:52.996-03:00A vida em caixinhasGuardamos coisas em pequenas caixinhas todos os dias. Algumas delas são boas, outras não. Algumas representam dor, outras não. Algumas caixinhas ficam abarrotadas, outras não. Algumas caixinhas ficam escancaradas, outras bem vedadas, há ainda aquelas que se abrem facilmente.<br />
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De tempos em tempos abrimos essas caixinhas e fazemos limpezas. Tem dias em que elas nos fazem companhia, em outros a solidão é infinita. Há momentos em que sentamos e o infinito toma conta de nós, então as caixinhas entram em colapso e parece que não conseguiremos nunca mais organizar coias alguma.<br />
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Tem dias em que tudo o que queremos é um abraço apertado, em outros dias nem bem grudados em alguém deixamos de nos sentir totalmente sozinhos. De repente temos a percepção de que de fato é assim, estamos sempre só, não há quem possa ajudar e precisamos cuidar das nossas vidas. Em outros dias, alguém pergunta se está tudo bem e nos sentimos mais acolhidos do que com milhares de abraços.<br />
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A vida é assim, cheia de caixinhas e de momentos. Ora vivemos como em um brinquedo de parque de diversão. Mas em outro momento vivemos como a bera de um lago em dia de verão.<br />
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Essa pequenas dádivas, o encontro casual, o reencontro depois de muito tempo, um abraço, uma mensagem inesperada. Precisamos olhar para essas alegrias, para as poucas pessoas que realmente nos conhecem. Isso traz as maiores alegrias, são elas que nos ajudam a passar pelo mundo como prazer. Percebi que ao pensar na dor da saudade esquecia de olhar para a alegria do encontro. Foco no positivo.Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-11897690164669379912019-07-18T11:02:00.000-03:002019-07-18T11:02:25.094-03:00O fimUm vazio pode tomar conta de qualquer um logo após o fim. A luta parece programada até certos momentos, depois disso só a vivência poderá nos mostrar as possibilidades. Tem dias durante os quais parece nem haver possibilidades. Você está sentado em um barco no meio do oceano e o vento para. Não há uma brisa que sopre em seus cabelos. Parece não haver ar sequer para respirar. O que fazemos?<div>
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Parece que a partir de um determinado ponto só é possível seguir em frente. Então, mesmo no escuro, vamos colocando um pé a frente do outro. Lentamente, seguimos na expectativa de evitar todos os buracos. Os olhos arregalados veem muito pouco, a noite é de lua minguante. </div>
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Há essa ideia de que a luz da lua é uma ilusão, porque na realidade reflete a do sol. Precisamos então contar com a intuição. A quantidade de luz natural que temos à disposição é sempre variável. Sugiro então que contemos com essa crença em nós mesmos, uma vez que somos a única constante em nossas vidas. </div>
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Vejo, com frequência, as pessoas ignorarem os benefícios que recebem. A vida é mais dura sem perceber as mãos estendidas. Durante a noite esses apoios são ainda mais importantes, talvez, alguém veja melhor do que nós. Um passo após o outro. Assim seguimos, mesmo no vazio, mesmo durante a noite, mesmo nos dias em que não venta. A fé em nós, assim prosseguimos mesmo quando encontramos alguns buracos, damos a volta, passamos por dentro, caímos e levantamos. A confiança nos outros, de que há muitas pessoas dispostas no mundo, de que há quem queira ajudar, assim as dores do caminho são menores. Sempre haverá quem o entenda, espero. </div>
Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-5714922962487352172019-07-16T11:52:00.001-03:002019-07-16T11:52:46.963-03:00CaminhoAcredito que ao longo da vida nunca voltamos ao início. Os caminhos que traçamos ficam todos registrados. Podemos fazer milhares de curvas, mas as pegadas permanecem. Com isso quero dizer que as ações passadas ficam registradas, apesar de qualquer nova atitude. O que não quer dizer que as pessoas não mudem, pois acredito que mudem sim. Apesar de todas as mudanças que aconteçam na vida, as consequências do passado podem ser sentidas na atualidade.<div>
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Falo isso porque, às vezes, ouço falar como uma pessoa foi injustiçada, mas nesse momento parece que os erros dela são esquecidos e o de outra pessoa supervalorizados. Não significa que injustiças não ocorram, nem que o erro não exista. Isso quer dizer que antes de atirar mil pedras, devemos considerar as questões que envolvem cada uma das pessoas. Ao fazer isso, talvez, não tenhamos mais pedra nas mãos.</div>
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Sentir-se menos valorizado ou mais cobrado é uma constante entre as pessoas, pelo que percebo. E acho que está tudo bem. Mas é importante que, em algum momento, superemos esse sentimento. Não pelos outros, por nós mesmos. Quando pudermos compreender o outro e como ele nos olha, talvez exista mais paz no munda e também em nós. </div>
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Nenhum caminho se apaga no mundo, por mais que esteja nublado para nós. Se pudermos respeitar esses passos traçados, mesmo que invisíveis, poderemos, talvez, conviver de forma mais amorosa e harmoniosa. Dimensionar os problemas dos outros é sempre um trabalho injusto, porque um sentimento só é conhecido por quem o experimenta. Avaliar o outro não é um trabalho nosso. </div>
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Passei a refletir sobre isso depois de coisas que ouvi de diversas pessoas nos últimos dias. Com isso passei a sentir que damos uma dimensão muito grande aquilo que vem de fora, assim acabamos, muitas vezes, esquecendo de olhar para o que vem de dentro. Não me excluo desse grupo, é justamente por me incluir que falo sobre isso. Ver o problema do lado de fora é sempre um exercício mais fácil para nós, porque identificar nossos próprios problemas pode representar uma dor maior. Acontece que é essa dor que nos levará à transformação. </div>
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Julgar e culpar são sempre trabalhos feitos com muita rapidez. Entretanto, a compreensão pressupõe um caminho mais longo, mais reflexivo, despende mais energia. A compaixão anda em alta só quando é fácil, quando está de acordo com nossos conceitos já formados. Talvez, esta seja a hora de o mundo começar a olhar para aquilo que não compreende com facilidade, de superar barreiras. Estamos ficando sem tempo, todos nós, todos os dias. Estamos sempre mais próximos da linha de chegada e o ponto de partida sempre mais distante. Gostaria que pudéssemos atravessar a faixa todos de mãos dadas e cabeças erguidas. Quem sabe, em breve, possamos todos ter os corações um pouco mais aquecidos. </div>
Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-76597815946531964522019-07-15T10:46:00.001-03:002019-07-15T10:46:03.366-03:00As falasUma coisa pode ser dita de diversas formas. Muitas vezes dizemos com um olhar ou um gesto e esses costumam ser meus dizeres favoritos. No entanto, às vezes, sentimos a necessidade de ouvir em palavras. Aquelas ideias todas guardadas, que vão se manifestando aos pouquinhos, podem se tornar pesadas demais se não forem postas em letras, espaços e algumas pausas.<br />
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Um dia acordei e percebi que aquilo que parecia óbvio pegava a estrada para longe. Foi um dia triste, de pouca produtividade, de muitas dúvidas. Sentei e, por um tempo, tentei descobrir o que reservava o futuro, nem isso trouxe alívio. Tem dias em que o futuro não quer ser conhecido. Sentei então em silêncio e esperei passar aquela dor. Eventualmente aquele turbilhão passa, mas um leve vestígio das dúvidas continua nos acompanhando.<br />
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Todos os dias parecem conter um aviso oculto. A informação está quase ao alcance, mas os dedos tocam de leve e não conseguem segurar. Parece que quanto mais nos esticamos, mais a resposta se afasta. Então esperamos quase impacientes que o vento mude. Deixamos tudo pronto e esperamos. O restante não depende de nós, precisamos apenas aplacar a ansiedade.<br />
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Penduro um quadro novo na parece e olho para ele por alguns instantes. Mesmo o que está feito deixa dúvidas, era esse mesmo o caminho a ser tomado? Seguro sua mão no escuro e peço que deixe uma luz acesa. O mundo vai se movendo de vagar, eu tento acompanhar o passo das estrelas. Seguro com mais força e percebo que não há mão alguma. As palavras tocam o teto e voltam para mim, o mundo está vazio.Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-71286873772836353582019-06-12T14:54:00.000-03:002019-06-12T14:54:35.067-03:00Uma carta<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.6933px; margin: 0cm 0cm 8pt;">
<span style="font-size: 11pt;">Vai assim escrevendo qualquer coisa e pensa que o tempo passa, mas nem sempre funciona. Os dias são sempre mais longos e as noites curtas. Procura uma carta entre papéis velhos. Seu nome está em um envelope vermelho. Abre e saltam folhas verdes, perfume de árvore velha. Quem é aquele senhor sentado à sombra?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.6933px; margin: 0cm 0cm 8pt;">
Segura sua mão na tentativa de resolver a questão, mas os nós são tantos, fica difícil saber qual é o início e qual é o fim. Torce o longo fio, mil vezes quem sabe, distorce as falas das personagens até encontrar um fim. Os céus vão ficando cada vez mais nublados e quando achamos que vai chover, volta o sol.</div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.6933px; margin: 0cm 0cm 8pt;">
Semana passada as histórias eram outras. Hoje tudo já mudou. Difícil afirmar com certeza, mas é seu nome no envelope vermelho.</div>
Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-39692725008152783342019-05-20T15:44:00.000-03:002019-05-20T15:44:05.412-03:00EmbaralharQuando o lado de dentro e o de fora estão misturados, ficamos desprotegidos. Qualquer brisa fere a carne viva que cobre nossos corpos. Saímos da casca com muita dificuldade, ainda estamos exaustos pelo esforço, nosso corpo sente cada brisa como navalha. Os dias vão passando e não sabemos se em algum momento a dor termina. Continuamos assim o caminho. Quando olho para o lado vejo que estou só, mas ao fechar os olhos sinto que há tantos comigo. Seguramos nossas mãos e seguimos, um passo de cada vez, todos ao mesmo tempo.<br />
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O tempo não faz sentido para nós. Vivemos o passado e o futuro simultaneamente. Agarro o destino pelos cabelos e berro na expectativa de que alguém escute. Ele espreme os olhos, como se isso fosse diminuir a dor. Minha voz rouca rompe seus tímpanos frágeis. Ele continua traçando as linhas da vida, ignora meu desespero. Minha pele ainda dói.<br />
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Espero do lado de fora, a casa está vazia, ainda assim não ouso entrar. Ela é conhecida, mas pequena para mim. Encolho as pernas na tentativa de escapar da chuva. A água cai cada vez com maior força, a brisa virou vendaval. Engulo cada lágrima como se fosse veneno. Um pequeno caracol sobe pela parede, observo seu trajeto por alguns minutos. O tempo muda.<br />
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Mesmo que pudesse dizer alguma coisa, creio que não falaria. Não há mais palavras. Minha cabeça vazia rola morro abaixo. Fico vendo quicar a cada pedra que passa. Logo me jogo também, sigo seu percurso até nos encontrarmos no mar. Quando já estamos totalmente integradas e a dor já passou, percebo que é hora de partir novamente. Logo o dentro estará fora novamente em um caminho inteiramente novo. Não é possível repetir as ações do passado, nem prever as do futuro. Logo tudo se inverte novamente, mas de forma inteiramente diferente. Em breve essa casa também não servirá mais.Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-15389509127300142182019-02-13T17:33:00.001-02:002019-02-13T17:33:29.841-02:00ImbecilSuas palavra vem de forma agressiva, batem em um espelho e caem no chão. Não sei ao certo o que se passa com você, que objetivos tem ao proferir tais indelicadezas. Sei que é um ser ranzinza e quase sem coração, mas isso não justifica se achar no direito de agredir, como se a culpa fosse dos outros. Não vou lhe dar conselhos, porque os meus são bons, então deveria cobrar por eles. Somente lamento por ser um serzinho tão pequeno, apesar do longo tempo de vida. <div>
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Depois que sai do seu lado, percebi que perdia um tempo precioso não dizendo o que pensava. Que burrice a minha, me calar diante de um imbecil. Esse tipo de pessoa é assim, surge do nada, fala o que não deve e ignora as respostas. Tenho umas mil horas de experiência nessa área, ainda assim não cheguei a ser promovida a nada. Alias, nada foi o que me tornei. Portanto, depois de algum tempo de reflexão, resolvi escrever essa carta a todos os imbecis que cruzaram o meu caminho. </div>
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Caros imbecis do meu passado, do meu presente e aqueles que por ventura ainda venham a cruzar o meu caminho. Vocês são tão uteis quanto um copo furado, vomitam tanta arrogância que qualquer ensinamento que poderia ter efeito é ofuscado por seu jeitinho desagradável. Guardei seus ensinamento, esqueci seus nomes. </div>
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Um forte abraço e o sincero desejo de que nossos caminhos não se cruzem novamente. </div>
Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-48094600606859669932016-12-26T14:32:00.000-02:002017-02-17T15:45:06.443-02:00<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: small;">A tarde começou quase sem que percebêssemos. Seu nome foi virando uma poeira e desaparecendo de todos os lugares. A chuva veio mais tarde e levou aquele pó que eu já não reconhecia como você.</span><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: medium;"> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new";">Eu sentei de frente para a janela. O chá foi esfriando na xícara. As folhas brilhantes balançavam num ritmo inconstante. Os sentimentos foram se alterando mansamente. Olho no espelho e não sei o que vejo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new";">Quem é esta mulher que me olha? A fisgada foi rápida, perdurou alguns instantes, passou e voltou. Mas cada vez é mais rápida, e demora mais para se repetir. Essa fisgada foi descendo, primeiro no peito, depois no estomago. Sei que logo terá escoado completamente. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new";">Logo sua presença não passa de mais uma mancha da qual não lembro a origem. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new";">Sinto-me grata por ter conseguido partir, mesmo com você apenas dificultando tudo.<span style="font-size: x-small;"></span></span></div>
Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-2411965288746696642016-03-09T19:15:00.000-03:002016-03-10T12:36:06.071-03:00<div style="text-align: justify;">
Em silêncio, quando não há quem olhe, aquele sorriso vai brotando no peito. Se alarga, se espalha, vai subindo, subindo. Aquele sorriso de notas macias, que diz verdades doces. Aqueles dias em que o sol esquenta de dentro para fora. Um daqueles dias em que derretemos geleiras, e a semana toda se amorna. Caminhos um pouco tortos, pedras muito coloridas, e seu acinzentado vai ganhando formas. Deitamos sobre a grama macia, e suas mãos vão percorrendo o chão úmido. Num movimento frouxo deslisa até o rio, e se deixa levar pela correnteza. </div>
Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-80874552688445996052015-09-21T17:37:00.000-03:002015-09-21T17:37:02.709-03:00<div style="text-align: justify;">
O seu rostinho surge aos pouquinhos do outro lado da janela. As pontinhas dos seus dedos já branquinhas de tanta força, seus pezinhos nas pontinhas, não os vejo, mas deduzo. Você uma pessoinha toda lindinha, cabelos ao vento, carinha de sono. Sonho com os seus olhos grandes, mas agora que os vejo percebo que são ainda mais lindos no seu rosto. Menina pequenina, de vestido floral, se estica na janela para ver o que há aqui dentro, eu na cadeira de balanço não preciso inclinar para saber o que há lá fora, uma barriguinha que ronca com fome de bolo com cobertura de chocolate.</div>
Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-17374106921509943032015-09-17T11:22:00.001-03:002015-11-17T10:17:38.547-02:00Volta ao texto<div style="text-align: justify;">
As palavras ficaram em suspensão tentando assentar aqui e ali, mas o papel tinha farpas que repeliam suas finas escamas. Até que essa manhã enquanto olhava o menino careca com suas roupas sociais, agarrado aos joelhos, sentado no canto do porta-retrato fazendo esforço para caber ali dentro e ao mesmo tempo cobrindo os olhos inchados com as pernas, pude sentir as cordas sendo arremessadas e começarem a laçar as palavras. Não digo que não seja doloroso o primeiro contato, as farpas perfurando as escamas quase que num golpe só. E elas foram se fixando aqui e ali, até formarem um conjunto indissolúvel, até estarem suficientemente conformadas e as farpas já não serem mais necessárias. Elas foram sentando ao redor do menino, formando o seu jardim e emprestando suas cores a ele. O menino desbotado foi ganhando vida e correu pelo caminho ensopado para fora das molduras do retrato. Ele chegou a milhares de encruzilhadas, mas jamais parou seu movimento, pois já conhecia o destino de estar emoldurado.</div>
Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-23689845609239935202015-03-24T20:21:00.001-03:002015-11-17T10:18:44.401-02:00<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Sentada entre folhas rasgadas procuro aquele verso que você guardou para mim. Entre soluços escuto sua última gargalhada e sei que nunca foi mulher. Suas vestes são escuras em contraste com sua pele cinza. Seus olhos mortos tentam esconder seu passado e fingem confiança no que nunca será. Seguro as folhas úmidas entre minhas mão trêmulas enquanto escrevo um último recado com o pedaço de carvão. Sei que se pudesse compreender já não precisaria ler. </span></div>
Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-87871607454777220602014-11-13T18:35:00.001-02:002014-11-13T18:35:12.878-02:00<div style="text-align: justify;">
Os fios de cabelo escorrem pelos meus braços feito cachoeira, como se pudessem voar sem nunca encontrar uma barreira sólida. Como pequenas pedras acizentadas sem chorar as veias que se partem. Seguro tua peruca com cada gota da força que me resta, mas ainda assim escorrem os fios sem o menor pudor. Agarro esses ventos que neles sopram e engulo cada golfada como se fosse a última. Ajoelho-me a beira da escada para encarar cada degrau de frente, mas os caminhos se alteram invariavelmente. Corro em diversas direções sem que com isso me acompanhe o ar.</div>
Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-26445011842576739252014-01-29T15:58:00.001-02:002014-01-29T15:58:08.957-02:00E então "nada será como antes"Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-48273542336480276782013-12-03T16:40:00.000-02:002013-12-03T16:40:06.934-02:00<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Um fio te segura a vida. Mas é certo, todos dizem em definitivo ou em busca de um lado para apoiar. Eu digo que seja, afinal de contas costumávamos falar juntas o final daquela história que todos fingiam esquecer, ou esqueciam até. Mas prestei atenção a cada mínimo detalhe, e hoje olho para o seu rosto imóvel e pálido, gostaria de pedir que fechassem sua boca, mas aquele tubo leva a vida. De quem? Nos sentamos no sofá por longas horas como se algo chegasse ao fim, e chega. Olhamos uns para os outros entre dúvidas e conformidades. Dizemos até logo, até amanhã, mas a verdade é que todos gostariam de não precisar mais voltar.</span></div>
Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-747391083113720305.post-17619590812007710172013-05-07T17:27:00.003-03:002013-05-07T17:27:41.863-03:00<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">A longa espera longa de quem se pendura em cordas gastas no penhasco ao por do sol. A hora que anoitece dentro de sacos semitransparentes e pergunta ao guarda que passa que horas guarda em seu casaco de lã. Solta migalhinhas de vida enquanto balança os pés na correnteza. Aguarda a vinda da nova diva em sua carruagem de papelão. Assiste o dia em tela imóvel, até que seja hora de partir. Reluta contra os deveres, até mesmo o dever de dormir, à noite não aceita o dever de pegar no sono, de manhã o de deixá-lo. Durante o dia quase esquece que deve manter-se de olhos abertos, e quando lembra que a semana passa quase pula os dias. Veste calçados confortáveis e se dedica a leituras sem futuro. </span></div>
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<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Anda de braços dados com a novidade por estradas estreitas, prende os cabelos em um galho, inclina a cabeça, enruga a testa. O dia se espalha pela corda gasta até chegar a ponta dos seus dedos, queima para que se solte, mas ela ainda agarra a mais desesperada tentativa de manter as mãos seguras, passa creme hidratante, mas o dia insiste em secar-lhe a pele. Escorrega até a última ponta, solta o derradeiro fio, em queda livre assiste a ascensão dos pássaros, cruza os braços, cruza as pernas e se espatifa no lago de cristal colorido. </span></div>
Asas de Cerahttp://www.blogger.com/profile/14491494334340578069noreply@blogger.com0