terça-feira, 7 de maio de 2013

A longa espera longa de quem se pendura em cordas gastas no penhasco ao por do sol. A hora que anoitece dentro de sacos semitransparentes e pergunta ao guarda que passa que horas guarda em seu casaco de lã. Solta migalhinhas de vida enquanto balança os pés na correnteza. Aguarda a vinda da nova diva em sua carruagem de papelão. Assiste o dia em tela imóvel, até que seja hora de partir. Reluta contra os deveres, até mesmo o dever de dormir, à noite não aceita o dever de pegar no sono, de manhã o de deixá-lo. Durante o dia quase esquece que deve manter-se de olhos abertos, e quando lembra que a semana passa quase pula os dias. Veste calçados confortáveis e se dedica a leituras sem futuro. 

Anda de braços dados com a novidade por estradas estreitas, prende os cabelos em um galho, inclina a cabeça, enruga a testa. O dia se espalha pela corda gasta até chegar a ponta dos seus dedos, queima para que se solte, mas ela ainda agarra a mais desesperada tentativa de manter as mãos seguras, passa creme hidratante, mas o dia insiste em secar-lhe a pele. Escorrega até a última ponta, solta o derradeiro fio, em queda livre assiste a ascensão dos pássaros, cruza os braços, cruza as pernas e se espatifa no lago de cristal colorido. 

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