quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Procurar um caminho alternativo para o desejo comum.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Tarde de sol

Caminhar por entre as pedrinhas procurando o rumo. E alguém ainda acredita saber quem somos. Sopro ao seu ouvido minhas lástimas sob o sol forte, temo ter aberto uma brecha para suas queimaduras. Quase sem perceber vamos descobrindo que passamos sempre mais a ser quem fomos, e a nos perder de quem eramos. Nem tudo faz sentido, nos contradizemos sem pena, até chegar ao meio do caminho. Vamos moldando nossas mãos para que caibam nas luvas do tempo que vivemos. Logo são nossos pés que já não servem nos sapatos e nos pedem descanso da sua forma muda e dolorosa. Pequenas pontadas a cada pensamento, até aprendermos onde podemos ou não pisar.

sábado, 17 de novembro de 2012

Sem sentido

As horas quase voltam a ser o que eram, somos tomados pela falta de habito, nada mais. Cheiro seu hálito entre as folhas velhas do livro amarelado. Caminho por entre as páginas gastas que um dia foram deixadas para trás. Planos são postos lado a lado na expectativa de um dia serem retomados. Cumprimos destinos, eles nem sempre nos pertenceram. Hoje em dia você me salva do penhasco, mas dessa forma logo esqueço o que ia pensando. Talvez mais valesse uma queda bem organizada. As roupas secam no varal, a estufa volta a seu funcionamento padrão enquanto planejamos a janta entre coelhos. Faço uma pilha de livros que vai logo se inclinando e rápido estamos naquela velha torre. Guardo seu nome em um bilhetinho de papel bem amassado entre coisas guardadas. Dessa forma não corremos o risco de sermos descobertos, se me perguntar nego. Com a tesoura fazemos curvas em folhas de papel colorido até que tenhamos uma forma interessante, e se nunca chegar ao poto, nunca paramos.

Inscrevi-me naquela vaga de emprego quase em dúvida de quem era eu. Quando chamaram-me pelo cargo fiquei em dúvida se era realmente por aquele nome que me chamam. De que servem nomenclaturas para quem acorda ainda com sono? Os dias passam meio ensolarados e quando vemos já é meia-noite. Acorda diz o cuco incolor sobre a cabeceira.

sábado, 10 de novembro de 2012

Hoje o dia variou e continuou mantendo seu assunto: Luz e tempo. 
Aguardando, é o que diz a tela tão estupida quanto lenta.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Redescobrir o que me faz sentir que a vida não é vã, nem o prazer.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Cabeçalhos e rodapés

Percebo que o impedimento está dentro e não nas entrelinhas alienígenas, que os zumbis são vomitados do meu próprio inconsciente, que o domínio é exercido pela própria falta de comando. Tento manter os olhos abertos em meio a escuridão no mundo e às vezes me sinto partindo novamente do ponto zero. Perco as referências e os planos se misturam em uma única dimensão. Caminho sempre meio caminho antes de pensar em voltar, quanto custa a sobrevivência? Grudo no teu peito sujo de lama tentando escutar a batida, mas fomos ensurdecendo por dentro e hoje já não há mais sinal que nos permita sentir. Nossas vidas se passam entre um título e outro, são as vírgulas que marcam o ritmo truncado dessa dança lenta. Somos pura irrealidade, somos um passo de cada vez e dois tombos em um tropeço. Comemos grama e bebemos orvalho sem nos importarmos com o baixo valor nutricional do que temos pensado. 

Fui deixando de beber na fonte cheia de nutrientes e vida para apenas me banhar no mar fértil das ideias impostas. Sinto os minutos passarem e ainda sou a mesma sentada diante de um pedaço de papel tentando contar o turbilhão que se passa. Mas é um turbilhão veloz e nenhuma imagem pode ser apreendida além da sua própria imagem rodopiante. 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Se a vida tem um sentido eu tenho vários.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Às vezes sou tão barulhenta por dentro que não percebo que faz silêncio lá fora.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Entre os mortos vivos

Sento na cadeira fria e úmida. Pergunto lentamente a cada sopro de vento o que dizem estas páginas vazias. Elas despejam seus ódios e anseios sobre a mesa de madeira maciça. Logo começamos a sentir seu cheio apodrecendo como quem não aguenta mais a carga de cera velha aprisionando seus fluidos. Final da tarde percorro a praça dourada enquanto o frio vai sendo absorvido em direção ao calcanhar, umedeço a partir das bases e nem posso dizer sem culpa que a vida começa depois das onze. Pego no fio da meada e parada olho para os lados procurando o sentido da vida. 

Hoje, independente do que pensam, tomei a atitude que poderia ser certa ou errada, e quase não me preocupei com o julgamento da sua validade. Hoje demos um passo em direção ao futuro, o que poderia ser mais assustador? Do outro lado da porta ainda é noite, e eu já amanheço para servir o café. À noite procuro não provocar a fúria de pessoa alguma, pois o lado zumbi de todos já é ativado pela raiva e apenas eu ainda sobrevivo. Ao menor descuido, uma palavra errada e então eu ativo o ataque mortovivo e se não for ágil o suficiente torno-me também um deles. Calo-me diante de tantos estranhos, eles invadem minha casa e meu sono. Eles tomam conta e questionam o sentido da vida que não sabem viver.

Talvez a única solução seja esquecer as perguntas que fazem essas folhas brancas. A água começa a gelar também elas, e por mais que o dia esquente a luz ainda não acende. Penso em cada um de vocês com atenção, corrijo sua vida em um segundo sem perceber que sou eu quem precisa de reparo. Rompi no meio do caminho e já nem sei mais aonde ia. Esqueci o roteiro e me perco por falsos trajetos. Os labirintos estão todos ocos, seu gelo não respeita casacos e uiva nas extremidades. Lembre de usar o telefone azul, diga que cor têm as flores em sua janela. 

quarta-feira, 27 de junho de 2012


Quem é você? perguntou repetidas vezes. Deixou todas as suas perguntas espalhadas pelo chão, até que voltasse mais tarde e após devida análise pudesse catalogá-las e guardar corretamente em caixas apropriadas por ordem de importância fosse resolvendo com o tempo. Assim foi por vários dias levando suas perguntas espalhadas e pulando por cada uma para entrar e sair. O tempo passou e as perguntas foram corretamente organizadas, mas depois de muito tempo mesmo, depois de terem sido guardadas e retiradas numerosas vezes para a correta higienização do espaço. Mas depois disso tudo a bagunça não havia findado, pois então veio a hora das respostas, e caixa por caixa foi sendo aberta e enquanto procurava pelas respostas adequadas novamente as perguntas se espalhavam por todo o ambiente. Mas isso não era tudo, pois assim um quarto bastaria, as perguntas foram aumentando e se multiplicando, pois cada uma gerava tantas outras e o próprio mundo lhe proporcionava muitas indagações a mais.

Assim as perguntas foram se espalhando, fugiram de casa e se espalharam pelo mundo. Ela foi perguntando e respondendo, algumas perguntas guardadas já perderam sua validade mesmo antes que pudesse chegar a elas, e então era preciso também reorganizar os arquivos já existentes. Algumas perguntas eram apenas respostas para outras perguntas e não precisavam ser necessariamente respondidas, mas outras ela gostaria que fossem, e assim sendo iam para a gaveta de perguntas ou respostas? Então a bagunça foi aumentando e diminuindo, sem nunca deixar de ser uma bagunça, mas também sem deixar de ser uma organização em si. Isso é claro com exceção de alguns momentos quando a bagunça virava bagunça, então era preciso parar um pouco, reorganizar a bagunça para poder continuar vivendo dela.

Por fim descobriu que o segredo era não tentar resolver todas as questões, mas apenas aquelas que desejavam ser respondidas. Assim aos poucos foi criando novas perguntas e respostas, e com essas foi construindo uma estrada.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

E mais uma vez o estrondo foi repentino. Fiquei por alguns milésimos de segundo sem saber o que faria, mas ainda assim não deixei de aproveitar o tempo para anotar mais uma ou outra coisa, juntar minhas coisas e tomar meu rumo. Aonde deveria ir, ou deveria simplesmente ficar ali parada esperando que alguém viesse me buscar pela mão. Professor, o circo pegou fogo, assim como o senhor pediu, mas os bombeiros não conseguiram controlar e estamos temporariamente desalojadas. Então deveríamos conseguir um novo passaporte, ou esperar que o dia amanheça novamente, que as lágrimas sequem e quem sabe que aquele pobre corpo esteja recomposto. 

Como podemos então esperar uma boa respostas daqueles sobre os quais não depositamos uma boa pergunta? Eu pergunto então: quem são vocês? E eles respondem até com certo prazer, e quase ameaçam respeitar-me embora meu poder seja ainda tão infinitamente menor. Talvez eles só queiram alguém que veja neles além do que poderiam supor, e não aquém do que já sabem ser.

Eu mesma não saberia dizer ao certo quem são essas "crianças", mas elas mesmas em toda a sua certeza e altividade, do que mais têm certeza é do tanto de dúvidas que guardam.

terça-feira, 8 de maio de 2012

E eu fiquei esperando sua ligação até a hora de desistir, esqueço que é de fato desligado!

Certificado genuíno

A hora produtiva chega e nem sempre estamos prontos para receber ela. Algumas horinhas é o que poderia pedir, entre uma obrigação e outra. Uns dois dedinhos de prosa sem falar do documento da discórdia. Para que serve esse pedaço de papel cheio de palavras e alguma assinatura? É ele a garantia do teu sustento, ou da tua dor de cabeça até as 2h da manhã? Montamos aulas, fazemos planejamentos, e no meio tempo ainda nos deslocamos para atender a um pedido... inútil. Mas como ousaríamos então avaliar aquilo sobre o que nem temos conhecimento. Eu sei apenas das palavras que li, das folhas que imprimi, e elas me dizem ativo, para mim basta, e para você? Mas talvez aquela mão grande e vestida de social pega nos pauzinhos e vai logo desenrolando a dança que mais gosta, mesmo que os fantoches logo ali não desejem se mover. 

Quem são estes homens que param no alto do morro e observam todo o movimento e mandam suas ordens sob pena de pobreza? Sabe o que eu penso, que pobres são eles, e não fosse um carro ou dois, iriam igualmente cheirar a cão molhado. Sabe o trabalho que não acabou, a corrida que freou na metade, as lacunas que não soube preencher? Eles também não sabem, mas pagam alguém que diga entender mais, e se de fato é o mais apto porque demora tanto mais?

Então sempre volto ao ponto de partida, posso estar errada, e se estiver pelo menos poderei dizer que errei com a maior convicção, a qual todos vocês jamais tiveram com relação a suas certezas absolutas. Imparciais, vamos aprendendo a ser ao longo do tempo, e quase acreditamos ser assim. Mas subitamente abandonamos o carro em meio ao transito e um alerta surge, algo não vai bem. Então concluímos que sou simplesmente um louco, incapaz de controlar ou julgar seus atos, que pensa estar fazendo tudo exatamente como deveria ser feito. 

Ou podemos ouvir a voz quase rouca de tanto repetir, e perceber que na verdade aquele impulso genuíno e aparentemente burro, foi apenas fruto da nossa inteligência mais íntima dizendo, salte agora ou sufoque na próxima esquina. Assim descobrimos que os dois jogos são igualmente perigosos, abandonar o carro a cada esquina e correr o risco de ser tragado pelo fluxo ou esperar que chegue a esquina que nos sufocará. Das duas formas afundaríamos, e então eu teria que te pedir perdão por não acusar teus parceiros de ter mal caráter, mesmo que injusta ou errada. Uma opinião que vai buscando sempre sufocar deve ser liberada, assim mesmo, sem prévio aviso. 

Nada alivia, nada dissolve simplesmente. Quem é essa mulher do outro lado da linha, que tarefa é essa que nos toma. Perdoa esses pedidos impulsivos, esquece esses freios bruscos, desvia essas falhas sistemáticas. Porque eu quase nunca percebo, mas geralmente eu sei.

sábado, 21 de abril de 2012

Sobre um dia prata

Em uma ruazinha estreita passeava um caminhão carregado de madeiras. Eu poderia ter passado por baixo ou pelo lado, mas foi por cima que o caminho me pareceu mais animado. Tem dias nos quais nem sei o que dizer, mas quase nunca acordo atenta. Hoje quando percebi já era dia, e qual não foi meu espanto, espremi meus olhos e abri novamente com força, fazendo uma careta abri bem a boca também, e não é que aquela luz pálida era do dia mesmo?! Então eu pensei se havia dormido ou não, e não é que tinha dormido mesmo?! Repousei novamente a cabeça no travesseiro, olhei as horas, constatei já ter dormido o suficiente.

Pouco mais tarde tentei te ligar, mas seu telefone se encontrava indisponível para mim. Meus olhos berraram praticamente incontroláveis a cada nova constatação, e eu poderia dizer que você já teve mais consideração ou urgência. O dia foi ficando cada vez mais dia, e quando refleti sobre aquela voz de máquina, cheguei praticamente a conclusão de que estava errada, mas tive medo de tentar mais uma vez e concluir qualquer outra loucura abstrata.

Quando finalmente obtive um tom mais longo, e ele consecutivamente sempre seguido de breve intervalo, em meio ao seu repetir obtive uma resposta diferente que foi, sem dúvida, a sua. Tivemos uma conversa brevemente longa e fomos interrompidos na quase conclusão, então trocamos mais umas palavras e voltamos cada um ao que já fazíamos, ou ao que já não fazíamos. O dia amanheceu sem que eu pudesse perceber, e foi ficado sempre mais dia, até que chegamos ao seu meio com um banho morno, e ultrapassamos ele com a sua sobremesa. E depois disso o dia foi ficando sempre menos dia. Mas também já nem sei se posso dizer que reparei nas variações do tom de branco ou de cinza que teve o dia. E também nem sei se já posso dizer que não é mais dia. Mas também nem sei se já posso dizer que acredito ou não, porque de repente esses detalhes já quase nem tem importância, pois simplesmente variamos.

O dia seguiu seu curso sempre mais veloz e logo em seguida mais lento. O dia seguiu seu caminho, que era o que ele desejava que fosse pois nós sabíamos apenas de uma coisa, para aonde vamos. E eu poderia dizer que quero sair exatamente agora, mas os traços ainda insistem em passar para o papel, e praticamente só me resta esperar a mão incessante que vai e vem preenchendo as lacunas. Que história se forma entre esses desenhos que chamamos de sues? Sim, porque eu quase poderia dizer que essas histórias se formam nos intervalos de suas linhas, que sua completude está no que seus desenhos não disseram e apenas deixaram que a história fosse. Porque assim é que as histórias vão se formando no intervalo de nossas imagens, no intervalo entre uma fala e outra, no intervalo entre um encontro e outro. Nossas história se formam por completo na suspensão de uma respiração e outra. E hoje espero ver sua história dar mais um passo, rumo àquela alegria que imagino para vocês.

Quase sempre dormi pouco se fosse dormir tarde demais. Quase sempre procurei algo para fazer no domingo as seis horas da manhã. Mas depois fui aprendendo a encontrar os motivos para acordar, mesmo que já fosse muito mais tarde. E depois percebi que as vontades simplesmente chegavam e nós íamos nos desdobrando atrás de cumpri-las. Qual era mesmo o nome daquele livro do qual não lembro quem foi autor? Ele contava uma história, qual mesmo? A nossa. Era um livro quase novo, mas foi envelhecendo assim como nós, e com o passar do tempo quase dei-lhe um nome, mas nomes pouco importam. Tem nomes que eu poderia esquecer, tem rostos que poderiam se apagar por completo, mas ainda poderia ouvir suas vozes, e depois de séculos eu ainda poderia lembrar de seus abraços. Porque não há corpo que eu tenha encontrado e que não tenha me abraçado, por que não há alma que tenha se imposto a mim e que eu não tenha sentido. Porque quase não há o que tenha sentido, ou que deixe de ter sentido.

Às vezes eu gostaria de poder deixar de dizer, mas ainda sinto mais vontade, então sempre deixo mais para amanhã.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Meio

Há tempo que eu não sabia como é sentar em frente a tela até bem tarde e ficar esperando que algo aconteça. Há tempo que eu não sabia e continuo sem muito saber. Nunca gostei muito do que me diziam estrangeiros desconhecidos, costumava preferir sentar no interior esperando que surgisse em meio ao nada uma voz esclarecedora. Nem sempre podemos imaginar os próximos passos com um desejo tão intenso. Às vezes olho para os ponteiros e as horas se repetem, as setas indicam de novo e de novo o mesmo ponto. E quantos pontos temos um ao lado do outro, todos esperando seu momento de brilhar. Quantas explosões acontecem sem que nem fiquemos sabendo e de repente simplesmente nos deliciamos com a delicadeza do seu brilho, ignoramos sua violência original. Repentinamente somos crianças inocentes sentadas na varanda a espera do próximo evento extraordinário. Quem somos nós?

As mudanças de horas fazem leves sons que nos transportam de um momento a outro quase sem que notemos. Estou cansada de ficar sentada nesse ponteiro condutor e ainda assim chega a hora de dormir, e é isso que eu deveria fazer. Devo o dia inteiro, e quando chega ao final, ainda assim não tenho escolha e devo deitar-me, fazer as preces da noite, devo agradecer, e então fechar os olhos e me entregar aos braços do desconhecido. Então ele me beija lentamente quase sem que eu perceba, e continua a me conduzir como fez o dia inteiro, só que agora com ainda mais inconsciência.

Qual é o seu nome, homem de capa azul que espia do outro lado da porta? Qual é o seu nome, bêbado que espia pela fechadura como se deixasse seu nome do lado de fora. Tira a roupa que cobre toda a tua vergonha e tímido dança esse balé torto de quem ainda não aprendeu a se equilibrar entre o ir e o vir. Espalhe bem seus dois pés no chão, divirta-se ao longo da noite e volte assim que o sol surgir para que com a fraca claridade eu já possa começar a ver teus olhos, e quem sabe eu descubra que essas orbitas vazias ainda têm alguma esperança, quem sabe eu descubra qual é a tua verdade, ainda que não seja cedo nem tarde.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Sobre um dia Ah!Típico

Hoje nos despedimos duas vezes com um beijo suado. Corremos, a saia a fustigar quem vinha no encalço. Frio por fora, calor por dentro, esmaga a ardida garganta, puxa pelos dedos para que diminua a velocidade. Tento acompanhar o ritmo do dia, mas tenho velocidade própria, ora a frente, ora logo atrás. Ao lado direito ou ao lado esquerdo, encontramos sempre uma mão amiga. Um divã improvisado, um exame esquecido sobre a mesinha de entrada, devolva logo o meu livro. Essa manhã acordei, ombro com ombro, virei para o lado. O moço avisou que tocava a buzina quando chegasse, e tocou. Massagem, massagem porque faz tempo que não há. Caminhadas, rotas entrecruzadas, mas foi ontem que nos encontramos em uma esquina, você indo, eu vindo, e hoje a mesma esquina nos encontrou na mesma direção, mas não tão alegre. Eu pensando em fazer o seu caminho, e você me encontra onde ele começa, depois disso procuro você para contar do outro encontro de logo em seguida.

Siga o caminho que anuncia a placa com grandes luzes piscando, para onde aponta? Compramos um novo apontador, pois nossos lápis já não seguem mais a linha. Trocamos os cabides do armário, eu prefiro o colorido, você todos os outros. Discutimos a beira da janela, e é melhor mudar de ideia antes que seja tarde, ou não mudar enquanto ainda é cedo. Melhor não começar o dia falando do passado, melhor não começar o dia falando. Perguntei se era verdade, e até hoje fico sem saber qual palavra escolher.

Boa viagem, não esqueça o agasalho.
Mas quem disse que me ouve?

Atenciosamente
Antes Tarde do Quenunca

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Para um momento de felicidade

Hoje acordei como acordo todas as manhãs e seria quase uma pena ser diferente. O costume é gostoso e logo se aloja em todas as partes do corpo e vai vivendo assim quase independente de nós. Eu escrevo sempre histórias curtas e espero que você leia de cabo a rabo, ou ao contrário e quem sabe do meio para adiante. Perco-me em parágrafos meio soltos e quase fico totalmente solta entre uma multidão e outra.

Geralmente quando me calo é por opção, e mesmo que não pareça ainda é. Poderíamos desatar a falar qualquer coisa, mas hoje você me inspirou, pois vendo sua inspiração desejei ser eu a inspirada do dia, mas quem sabe seu texto já é passado e hoje já acordou meio amanhecido. Isso quer dizer que talvez eu tenha chance? Grata à ignorância.

Então digo eu do não saber. Ao mesmo tempo pode ser muito desesperador e pode ser totalmente belo. E quando convido você para andar de trem, não sei se vai chover amanhã. Será que chove hoje? E assim inicia um diálogo baseado na dúvida ou na simples falta do que dizer. Pois bem, entre calar ou duvidar, às vezes, acabo ficando quieta com minhas dúvidas.

Gostaria de falar mais, mas guardo um pouquinho para depois do café.

domingo, 1 de abril de 2012

Para você também

Vejam só, dessa vez fizemos aniversário e nem percebemos. Por que mesmo começamos? Para que pudéssemos ficar sozinhas... e quando menos esperávamos estávamos chamando amigos a nossa companhia. Hoje ainda não sabemos o que queremos, nem temos ideia do que esperávamos quando começamos a jornada, talvez apenas um pouco de diversão. Mas perder o ponto de partida não é tão mau assim. 

Fomos mudando sempre mais com o passar do tempo, e hoje talvez possa dizer que sou uma mistura de tudo isso que já passou. 

Grata pela atenção.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Memória inútil

O que mais eu deveria ter dito, do que foi que eu esqueci? Todas dispostas uma bem ao lado da outra, não importa, o tempo passa sempre em pequenas porções e umas lembram as outras. Hoje descobri um velho sentimento ainda guardado, o ar entrou gelado pelas narinas como outrora. Somos tão estúpidos, e ainda assim criamos grandes teorias. Somos tão teóricos, e ainda assim acreditamos viver demais. Deita sobre as cobertas e pede para que o tempo passe logo. Somente quando virar passado é que saberemos o futuro.

terça-feira, 13 de março de 2012

Fazer é tão fácil quanto só fazer pode ser, o difícil é depois decidir o que fazer com o que foi feito!

terça-feira, 6 de março de 2012

Hoje acordei meio assim ou não, meio para lá, meio para cá. Fui dormir querendo acordar e acordei querendo dormir. Fiz tudo meio invertido. Quero todas as coisas ao mesmo tempo e quando menos espero já estou desejando algo novo. Quando menos espero já nem sei se ainda quero. 

Vesti uma saia rodada e saí passeando despreocupada. Vesti várias peles uma por cima da outra e fui correndo contra o vento e descascando lenta. Tantas misturas e somos tão sozinhos. Tantas oportunidades e queremos sempre uma outra. Tantos dias e anoitecemos sem aviso. Repentinamente nos achamos tão sem uso, e logo temos necessidade de ser novamente. Então fazemos tudo compulsivamente até perceber de novo o quanto sou inútil.

Acorda! Berrava a voz do outro lado da porta, e quando dei por mim, já era outra.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Volte amanhã ou hoje ainda, venha todos os dias se possível. Pense no acervo que se conserva ao abrigo do sol ou da fome. Acorde todos os dias, mas não pelo simples fato de ser dia e se quiser deite quando estiver noite. Eu costumava deitar quando estava noite, mas repentinamente eu não soube mais quando o dia deixava a noite e quando a noite deixava o dia. Sem saber então, fui criando novas horas e dizendo a cada um que inventasse a sua também. Quando eu menos esperava fui vendo uma plantinha nascer no vaso de bromélias sem saber que era planta que nascia, nem que suas vizinhas eram proprietárias ou bromélias.

Sem saber que era inquilina ela foi logo descobrindo, assim como eu, que por um certo tempo a noite e o dia conviviam da mesma forma que ela e as bromélias, e nem uma nem outra sabia de quem era a casa. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Para não lembrar de repetir

Esqueci mais uma vez, e mais uma e mais outra. Esqueci tantas vezes quantas poderia ter esquecido e sempre lembrei novamente. Até que sentei e arranquei as unhas uma a uma. Quando nada mais havia restado voltei à vida meio sem pressa, meio esquecida.

Enche a boca de farinha e mastiga até que tudo desça sem ajuda de copos cheios. Enfia essa porcaria toda na boca e mastiga lentamente até que tenha esquecido tudo o que tinha a dizer, e até que tenha esquecido a raiva toda por ter esquecido tudo.

Senta no banco quente de sol e rumina feito vaca velha, e aos poucos vai poder lembrar de quem realmente era. E se lembrando lentamente poderá voltar a ser. Mas voltar a ser pode vir feito enxurrada e tomar conta rapidamente. Então aguente, se não escapa.

Às vezes escapa pelos olhos a enxurrada que inundou por dentro. Então no final de tantos vazamentos e goteiras olha no espelho e diz em voz tão alta que apenas um escuta. Não repetirei.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

(des)acordar

Escuto ele correr atrás de mim e vou meio desvairada para qualquer lugar. Suas engrenagens se encaixam e desencaixam e eu me espanto a cada estralo mais alto. Sobressalto, mãos ao alto! É tempo de contar. Inspiro, expiro, suspiro. Os parágrafos voam e logo virá um novo capítulo. Tento adivinhar suas linhas. Ele passa depressa, ele corre veloz, e eu tento seguir à sua frente, quase tropeço nas longas vestes. Não vejo, há muito que não vejo, então tento adivinhar, e olha que desastre. Sinto, e vai fazendo efeito.

Paro de tentar acertar o que passou ou o que acontece agora. Paro de tentar, e simplesmente caminho a teu lado e seguro a mão que acaricia a manhã. Sento no alto do morro e vejo o sol se por atrás de uma linha imaginária que o leva para outro lugar. Sorrimos sem querer e quando percebemos já é riso solto. Acordei de uma maneira e fui passando com as horas. Agora nem poderia dizer ao certo o que há. Soube repetidas vezes como é ser deletada sem julgamento ou coerência, mas simplesmente existir é algo a que me acostumo agora lentamente. Um pequeno fato agora sem importância às vezes chama a atenção, e você pode talvez não entender, mas ele parece arrancar a casaca de uma antiga ferida e fazê-la voltar a sangrar. Por vezes corro a procura de curativos, mas veja como os teus apodrecem sobre a carne e você nem pode olhar para o próprio braço. E é de abraços que vivemos.

Ninguém jamais poderia saber como é, ou como foi, nem eu mesma posso dizer. Me calo inúmeras vezes tentando descobrir qual seria a palavra correta, difícil descobrir.

Como saberei que textos ainda terão sido mentira, como saberei qual é a verdade. Perco a noção do tempo que se despedaça e conta sua própria história. Eles pedem que a gente se entenda, e vamos nos entendendo pouco a pouco. Prometi não gritar mais alto do que a sua própria voz, já não o faço. Hoje também nem poderia, perdi a minha. Hoje já não posso mais dizer, essa grande máquina colorida me atropelou e agora tento levantar novamente. Hoje o cinza do céu invade o meu corpo, sou fumaça vagando silenciosa embora borbulhem aqui dentro. Vamos escrever uma nova história porque dessa coisa velha eu já cansei. Vamos construir nossa própria máquina do tempo para que ela possa andar na nossa velocidade. Vamos desmontar esse cavalo, que poderia ter sido alado, e voar por nós mesmos. 

Essa manhã eu acordei e quase nem acredito que sou a mesma. Essa manhã eu acordei e quem sabe ainda continue acordando.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Não pense que é maluquice minha te dizer a verdade sempre em tortas linhas.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

não esconder

Aparecer nu no meio da estrada berrando: SOU EU, SOU EU! E lentamente vai surgindo aquele sol por trás das nuvens há muito adormecidas. Quando menos esperamos sou apenas um vulto nu levemente marcado por tons mais escuros. As notas se repetem diariamente, elas cantam sonetos antigos, e fazem dedilhados no ar. É assim que ele se agita e cresce. O dedilhado faz o ar mover, e faz os ventos ondularem, e as vestes largarem seus comentários miúdos e quase inaudíveis. É amanhecer dentro e fora. É dia pulsando em nossas veias. Não adianta voltar, repetir passo a passo. Não adianta. Repentinamente me sinto totalmente só. Inesperadamente sinto como se fosse o passado. O presente é ausência pura. Presenteei tua noite com pensamentos inquietos, com a total falta de sono. O presente é a noite sem sal.

Já acordamos e dormimos novamente. Tentamos nos manter sãos, mas é na loucura que nos encontramos. É quando todo o resto se cala que podemos finalmente sentir. É quando tudo acaba que podemos sentir como foi. Somente ao fechar os olhos pudemos por fim enxergar. Não fecho mais a porta pois sentem a ausência, mas foi um pedido em especial que me fez repensar verdadeiramente. E hoje posso contar com clareza todos os dias.

Hoje eu acordei enquanto berrava nu no meio da estrada, e eles não me atropelaram, mas também não me importaria que assim fosse. Hoje acordei berrando transparente no meio da sala, e eles quase acordaram, me importei de assim ser. Acordei várias vezes berrando descabelada em qualquer lugar. E cada vez que acordava me reconhecia menos, mas me conhecia mais. E toda vez que deitava dormia menos, até que pude dormir um pouco mais. E agora deitada no chão de pedra me debato tentando acordar. A lua se deixa plena no céu, e eu posso dizer que é a nossa estação.

Basta de lembrar, basta de tentar entender. Acordei nu no meio da estrada, e a estrada estava nu. Procurei nossos rastros e não encontrei, pois não há. A chuva varreu os restos e eu inteira tentei encontrar esperando por fim um dia poder dizer que me encontrei.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Doente terminal

O biquinho ofegante, os peitos saltando, os bracinhos erguidos e as mão cerradas. As sandálias de plataforma batucando as pedras do terminal antes que o ônibus partisse e ela ficasse. O vento dos seus pulmões ainda agita nossos cabelos que se prendem em fivelas e se soltam em cachos. Nossas folhas ainda se agitam inclinando em reverências trêmulas e voltam aos seus lugares. A luz mais forte, hoje, quase sempre se esconde sobre o branco do céu, e o calor da caminhada termina de se dissipar. Já quase chega a hora, mas há sempre um relógio adiantado.

A moça sai do ônibus sempre nesse horário. Por um tempo acompanho sua caminhada, por um instante me distraio e a perco. Sempre imagino seu percurso enquanto outros a esperam. Costumo calcular as horas, e gosto de deixar um relógio cinco minutos adiantado e o outro na hora certa. As pessoas esperam para passar para o outro lado, enquanto a moça não vem. Ela prende os cabelos sempre no alto, bem junto a sua cabeça. Quando a moça vem, volta ao seu posto e a gente ao nosso oposto. Ela sempre lê ao longo do caminho e o seu trono é sempre o mais alto. Hoje ela come quitutes que certamente não foram brindes. Nossa carruagem amarela, onde pouco é ouro, quase nunca se ganha de graça, a não ser que seja olá, bom dia, muito obrigado.

Aqui a gente geralmente não se obriga, se não piora.

domingo, 29 de janeiro de 2012

17/12/2011

Quando o primeiro grito leproso saiu de dentro do peito dele eu já sabia que era noite. Anoitecia dentro dele sempre lentamente e suas botas enlameadas entravam em casa e depositavam cuidadosamente o chapéu na antiga chapeleira de madeira. Geralmente espalhava seus pingos por aquele corpo semi absorto em penumbra. O tapete se resignava recebendo o úmido de fora e guardava a pegada indiferente até que alguém pudesse dar-lhe um nome. 

Pouco se dizia durante as noite chuvosas, os pingos eram grossos e barulhentos, o telhado contava pequenas histórias de ninar.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Roupas penduradas em estantes estranhas escorrem de duas em duas.
Às vezes penduramos direto do varal, às vezes passamos, e às vezes elas passam.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Reflexo

O que vejo na tela são minhas próprias mão se espalhando rápidas e flexíveis. Não vejo teus olhos e não deduzo nada, guardo a última recordação de um olhar se opondo a própria voz. Não guardo mais coisa alguma e deixo que se espalhem por aí essas coisas todas. A noite foi longa, mas não imaginei o que faziam por aí, essa noite pensei apenas em mim. Todas as vezes que acordei estava feliz, para variar. Todas as vezes em que acordei fiquei surpresa por ter dormido. Quando descobri que era dia, fiquei feliz, pela primeira vez em muito tempo. Pela primeira vez é dia e eu não tenho sono. Pela primeira vez escrevi minhas metas em uma folha de papel, e elas não são perdíveis. 

Hoje acordei depois de nem bem dormir. Hoje acordei várias vezes, aguardando o meio do dia. Hoje ainda não estou satisfeita, mas estou menos triste. Hoje, em boa parte, voltei a ser eu mesma. Em boa parte, hoje, pude entender o que me faltava, e pude descobrir que ainda consigo falar. Descobri que ainda posso fazer, e mais do que isso, descobri que não estava conquistando pelo simples fato de não fazer. Hoje acordei de um sono profundo que durou anos. Hoje acordei de uma inconsciência tão interminável que faz com que eu perca seu início.

Ontem os labirintos se comprimiam e hoje eles se alargam. Ontem perdi a razão para hoje reencontra-la. Afinal, como diria minha bisavó "tem que se perder para se achar". E eu tendo me perdido tão profundamente, ainda tateio o caminho de volta. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Esquece

Há números novos no calendário, e eu pensava que não tinha mais o que dizer. Passei dias escrevendo, mesmo quando não peguei caneta. Silêncio por longo tempo.


Penso no ano que passou, e nem tudo consigo lembrar, diria que foram várias temporadas em uma estação, e hoje acordo já de maneira diferente do que acordava antes, mas tem dias nos quais certos sentimentos se repetem. Às vezes nem sabemos se algo se repete ou se é apenas uma memória estranha que age sobre nós. Várias rotinas se imprimiram independentemente no meu sentir, e hoje elas já sabem sozinhas o caminho a percorrer. O velho livro interminável e sem sentido voltou.

Não pense, procure não pensar nas minhas incontáveis mudanças de habito, e me esqueça na primeira esquina que dobrar, e assim vamos cada um por seu caminho intocável. Cada vez que você deixa de existir eu ganho tempo.

Sento no banco ainda florido da praça em círculo, peço com toda a força ainda rezando baixinho. Esquece que combinamos, que marcamos a felicidade com um X entre um parágrafo e outro, e quando terminamos a leitura tínhamos um pergaminho todo rabiscado? Não faço mais questão de repetir, e você já não faz mais questão de olhar para mim. Como poderia eu então esquecer, logo eu que esqueço rapidamente, guardo os detalhes em arquivos bem separados, até que um deles fica fora de acesso. Esquecer é sempre mais difícil a noite, e agora vivo a noite vinte e quatro horas por dia.

Hoje vou passear junto com sua voz estranha. Ligue quando tudo acabar, e estarei pronta para um novo intervalo.