domingo, 30 de maio de 2010

Terrina de terra, cerâmica. Será na terra macia, terrina enterrada. Levo a terrina a mesa do teu banquete, minhocas te servirão bem.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Nessa decadência ascendente voo a qualquer lugar. De cadência quem entende é você.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Perco o folego, me de uma ideia medeia, diga dica.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Novas linguagens, velhas linhagens.

domingo, 9 de maio de 2010

Vi aquele insetinho voando rápido sob a luz do poste, como se escapasse dos pingos de chuva. Aqueles pingos velozes como setas, caiam no chão e ascendendo se espalhavam em todas as direções. Dirigi veloz, meus olhos atentos foram e voltaram. Roda gigante no céu claro, mel escuro.

Tinha uma chave em cima da mesa, sob ela pano azul estrelado, flutuei por entre seus dedos, afrouxaste a mão. Raiou o meu sol, pediste perdão. Seu berro foi ouvido a distância, negaste a instância. Distancia, diz tanto. Disfarce, dez faces, des_faça, farsa. Faca cortando seu, abelha colhendo meu.

sábado, 8 de maio de 2010

Cinzenta como o dia. Sim, não, aperta a minha mão.
Enquanto eu ando a chuva cobre o chão com poças refletindo o cinza para todas as superfícies. Visto novamente um casaco largo e minhas botinas cansadas. Pálpebras fortes se sustentam para não encobrir detalhes importantes, ouvidos distraídos, passos firmes. Vou repetir o que me foi dito: isso não teve tanta importância assim. Pois bem, porque te importas tanto então?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Se você puder interpretar o meu silêncio teremos aprendido a falar. Se você for inteiro quando eu estiver ausente e ainda assim sentirmos saudades, estaremos prontos para ser dois. Se não nos conhecemos e temos saudades, é porque estamos sentindo nossas almas.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ontem a noite voltando para casa passei onde ficava um bar, um boteco velho e sujo. Pensei nos que frequentavam e perderam o amigo que foi embora, aquele que não só frequentava o mesmo lugar mas também dava sentido a ele. Então pensei em mim e nos outros. Às vezes perdemos alguma coisa, ela estava ali, ao alcance de todos, mas passava despercebida, como aquele bar que embora estivesse no centro, onde todos passam o tempo todo, nunca era notado. Era o mundo invisível de seus frequentadores, era só deles. Como ficam os que perderam? O que sentem quando veem sua história partir? Como nós preenchemos as lacunas, como trocamos com aparente facilidade uma coisa por outra. E quando andamos distraídos pela rua, vemos o vazio onde costumava ficar aquele bar. Então o silêncio da sua inexistência é mais eloquente do que sua presença luminosa por anos. A sua ausência berra o passado. O que se faz quando um melhor amigo vai para longe, quando ele se torna um recorte no peito, quando passa a ser um lugar vazio na mesa, uma garrafa a menos, uma válvula de escape entupida, uma lágrima que rola até pingar, a mão que não estende o lenço, uma gotinha de realidade que passa para o virtual.

Aquele mundo tão importante, tão especial, some de uma hora para a outra... puft! Foi-se, e ninguém fica sabendo o quanto importou, o mundo ignora aquele nosso mundo invisível, e talvez nem percebam que há um novo espaço vazio no seu caminho, talvez percebam aquelas tábuas vermelhas e se perguntem quando surgiram, ou fiquem contentes com o desaparecimento daquela construção horrorosa. Mas todos nós quando passamos por ali, ou eu passo por uma rua próxima e penso, "acho que ficava por aqui", olho aquelas tábuas e me pergunto como é que desapareceu. Lembro vagamente de um comentário triste ao qual não dei atenção.

Só nós sabemos, e todos nós quando passamos por ali, nos unimos num sentimento mudo, uma emoção que nos une e nos reúne por alguns instantes. Por um segundo estamos novamente juntos no invisível, e com um olhar somos cúmplices. Ou talvez seja só eu. Talvez seja eu o sentimental.

Talvez o mundo todo não se importe, talvez ele já tenha esquecido o nosso invisível, e como lembra-los se ele é assim também indizível? E se todos jogam a história no lixo, como uma sucata velha que ocupa um espaço precioso. Se for assim, estarei só, novamente, passando por uma rua próxima, silenciada pela noite, iluminada pela luz amarela dos postes. Verei as tábuas duas quadras para lá, uma pessoa que passa distraída, um carro perdido, um ónibus cansado, e já estou em outra rua, deixo uma lágrima silenciosa rolar e congelar. Me vejo diante daquela esquina, eu e as tábuas, velando as suas lembranças e as nossas esperanças. Somos crianças. Improviso meu palco, danço com algumas estrelas que ousaram brilhar. Orvalho nos cabelos, a lua no chão, o céu no meu véu. Essa é a nossa homenagem muda. Esse é meu adeus solitário. É o meu adeus para você. Ao meu invisível sempre volto, guardo ele nesse bloquinho, não para quem quiser fazer dele seu, mas para quem quiser construir o nosso.

Faço uma reverência, vejo a praça e parto. Parto.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Notas em restos de papel
Notas? Sou resto de papel
Veste capa em dia de chuva
Vês-te? Na capa em dia de chuva
Na capa, acaba, notas?
Notas na capa
notas no bolso
dinheiro lembranças
Lembranças em notas de papel
circulam, pulam, caem em uma poça
Possa ser bom, poça lama pão
Caminho entre possas
caio em poças
me perco em deixas
te encontro em partes
Partes

domingo, 2 de maio de 2010

Se um abismo abrir em baixo dos meus pés, posso cair eternamente ou aprender a voar. Se uma árvore crescer sob meus pés, então posso ter vertigens ou apreciar a nova vista. Se o mundo ficar muito sujo, vassoura e água fria. Se ficar fria, casaco de lã!

sábado, 1 de maio de 2010

Se eu esquecer que te encontrei, posso me encontrar em uma linha qualquer. Se perder a linha, posso ser qualquer. Se sou qualquer posso escolher.