quarta-feira, 27 de outubro de 2010

E o dia então acordou devagar, roupas no sol, quis ganhar a aposta. Estava tão indisposta, correu na direção oposta. Escondeu para não ver, lado de trás do espelho. Espelhada em si mesma, cansou de rever seus atos. Protagonista da sua própria história, por instantes, pareceu coadjuvante. Rasgou o véu que cobria sua face, por instantes ficou cega. Secou as poças com o olhar, riu com as folhas a farfalhar. Berrou que não é mais quem foi, descobriu estar muda. Muda cresceu, tornou-se planta adulta. Não sabe ser o que se tornou, quis ser o que ainda não sabe. Caiu em um ninho de cobras, morreu de desastre ainda na infância.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Um poema perdido no espaço, criou raízes no universo. Quis pousar em um canto seguro, não sabe que sempre chove novamente. Cresceu forte, mas continuava morno por dentro. Nada quis dizer, mas aprendeu que nem sempre é possível se calar. Poema rouco de tanto tentar, tanto pensou que ficou louco. Quis escorrer pelas paredes mornas, mas o dia estava frio demais. Este poema virou música, mas não sabia escutar. Correu como criança assustada, mas se achou velho para tentar. Era cheio de sabedoria o poema, mas fraco para suportar. Subiu ao céu, contou sobre as nuvens, viu as chuvas, sonhou com a lua. Foi roubado, foi assaltante, foi piedade, foi indiferente. Deixou de ser cada coisa, passou a ser tudo. Tudo tanto quanto nada.

Vazio, o poema, voltou para casa, sentou nas escadas e esperou as horas passarem. Quando esgotou, pensou em partir. Tantas falsas verdades ouviu que não sabia mais quem era, foi tantos que deixou de ser. Não sendo pode voar. Precisava decidir se era folha ao vento, ou quadro na parede. Troféu vazio de sentido não quis ser, mas quis um rumo para chamar de seu. Rodopiou, ficou tonto, o poema, não era dança, era vertigem. Quando acreditou ser queda livre, descobriu ser trampolim. Quando não havia mais saída, descobriu ser seu próprio forte. Reorganizou as palavras, criou uma nova frase.

Cansado do que passou a ser, começou a se despedir dos excedentes. Descobriu que as felicidades momentâneas, talvez, não valessem a tristeza permanente. Percebeu que se ocupando das pequenas alegrias deixava passar as grandes. Não soube o que fazer e naquela noite foi dormir mudo.