sexta-feira, 29 de julho de 2011

Nem toda ovelha é negra

Toda ovelha é ovelha não importa sua cor. E toda cor é cor de cor ou não. Guardo os tubinhos de tinta para não precisar lembrar o nome delas. Subo montanhas carregando sua lã em um saco de feltro, quando chego ao topo espalho ao vento seus fiapos multicoloridos. Deito e volto rolando, enquanto giro planejo o jantar. Farei sopa para que você se esquente quando voltar do trabalho, os legumes se agitam na panela fumegante e a cozinha se enche dessa fumaça densa, esparsa. Os lençóis se agitam contentes no varal, e as nuvens de chuva chegam de mansinho para não me despertar. Na feira compro utensílios tão diversos sem saber ao certo para o que servirão. Carrego minha cesta sem pedir ajuda, vou cantando ao vento. Assobio aquela melodia que fez para mim. Antes que escureça por completo juntamos nossos trapos, eu carrego os ases você as espadas. Um coringa surge no meio do caminho e estamos salvos até a próxima rodada. Rodamos entre estes mundos de cores vibrantes, nos deparamos com paredes estranhas, subimos morros verdejantes, fulminantes, esquecidos, cinzentos e ametistas. Seguramos uma corda solta e ancoramos no meio do espaço.

Hoje acordei ainda pensando ser um sonho, mas quando vi estávamos atrasados para o trabalho.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

E assim vale a pena

Havia esquecido como se faz um poema, como se constrói um verso. Não lembrava com quantos riscos se faz uma história, com quantos rabiscos se recria. Vou desenhando essa história sem saber do resultado, mas sei que sem desenhá-la não saberei quem é. Borracha não tenho há tempos, não reescrevo, mas troco algumas linhas e na ebulição destes traços me permito perder por completo o controle. Ao fim surpreendo-me com o resultado desse descontrole atordoantemente alegre. E sem essa confusão que nos toma e eleva, posso dizer que não tem a menor graça.

sábado, 23 de julho de 2011

E tudo muda

Já que o ar não para de girar, o barco vai sempre adiante, e quando paramos é a água que passa sem sossego. Suba ao degrau mais alto e quando estiver lá berre o que vê, assim poderá animar os outros a empreenderem a subida.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Olá quem vem de lá

Nos últimos dias, ou nesse último mês passei pouquíssimo tempo sozinha, e estou muito feliz com as companhias que tenho, mas agora, exatamente agora, percebi como faz falta alguns minutos totalmente só. Não aquilo que me faz sentir inteiramente só no mundo, mas aquele intervalo de tempo em que fico só comigo ou "comigos" mesmas, e posso conversar com as várias que sou, sem grandes interrupções, e com a tranquila ideia de que "alguéns" esperam por nós. Sem urgência, sem pavor, sem traições. Posso sentar por um instante e lembrar o que queria dizer, descubro que às vezes preciso estar totalmente só. Que por algum tempo preciso estar com toda a atenção voltada para dentro. Mas mesmo assim, nem por um segundo esqueço de vocês. Por mais que eu esqueça, por tudo que eu esqueça, não esqueço de ti.

Lembro que os estágios temporários são importantes para o resultado final. Essa escrita é quase inconsciente, embora frequentemente busque justificativas na racionalidade.

Obrigada por virem, obrigada por lerem. Entrem sem fazer muito barulho para não atrapalhar a concentração, comentem mas não crucifiquem aquilo que ignoram. Comentem no final, mas lembrem que quem fala aqui não é poeta ou literato, mas uma fazedora de imagens que escreve porque sente, e sente tanto que se não dividir sufoca.

Divido mais um pouquinho do todo, e mais um todo do pouquinho que tento captar.

Se chover pedra novamente, esse nosso abrigo estará ainda mais sólido para nos receber outra vez, se houver sol deixe que entre.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Para tirar o mofo

Antes que esqueça de voltar a praticar, antes que eu esqueça como faz para patinar. O gelo cai sobre nossas cabeças, mas o sol raiou. Estamos descongelando lentamente, e a cada dia pisamos mais firme. Enfim pudemos deixar aquela borboleta sair voando do casulo que há muito insistia em permanecer fechado. Hoje o dia raiou para secar a chuva que se prolongou. Hoje saímos às ruas e tiramos o mofo que liberava o cheiro estranho. A mulher andou pelo corredor procurando de onde vinha o cheiro ruim, cheirou nossa porta, apoiou suas mãos sobre ela e aproximou o rosto enquanto fungava. Permanecemos em silêncio e ao amanhecer não sabíamos quem era ela. As marteladas do vizinho do andar de cima, mas moramos na cobertura. Dormimos de qualquer forma, porque as cortinas não deixaram que descobríssemos que horas são.

O segredo é acordar sempre que temos vontade e dormir sempre que sentimos sono. Mas não pular a janela sem antes verificar se alguém estende a mão atrás da porta. Noite de chuva, dia de sol. E nem sempre foi assim.