sábado, 26 de fevereiro de 2011

Foi por medo de avião que peguei na tua mão, mas agora salto de para quedas.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Hoje entre uma corrida e outra escrevi algumas linhas tortas e sujas. Esqueço rapidamente todas as boas ideias e logo em seguida renovo. Dias longos de frases curtas. A vida é a farsa a levar por todos, já disse o poeta. E suas palavras rodopiam enquanto passo minhas temporadas no inferno. Parece que a neve tem esfriado os ânimos e produzido aquela sensação de formigamento gostoso antes do último pulso. Dormi quarenta e oito horas e quando acordei ainda era o mesmo dia. Parece que o dia insiste em não mudar, quem sabe mudo eu.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Cansada de acordar sempre no mesmo lugar caí da cama e passei frio o resto da noite. Voltei para meu quarto e encolhida vi que sou sempre a melhor companhia. Sonhei com tudo o que há na realidade enquanto comia biscoitos de avelã, chá fumegante, amigo à mesa, futuro nublado, frutos coloridos. Rasgar uma velha fotografia é sempre um bom começo, queimar o estoque de fraldas e sempre carregar um lenço no bolso. Desconfio que a felicidade a dois pode ser a alegria de estar só. Viver de mentiras é viver do resto e abandonar o todo.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Descarta

Uma cigana que perdeu suas asas.
Perdeu o destino que ela mesma traçou.
Seus traços ficaram borrados e gastos,
suas mangas sujas a barra da saia.
Quis levantar barrada, saia!
Cigana de olhos verdes previa sem cartas.
Cigana sem olhos previa, quase sempre.
Se ensaia, cigana de saia, saia!
Chove na cigana, chuva de cigana.
Chuva de cigana é suada e intensa,
cai com força, seca rápido e dura.
Chuva de cigana é sal grosso, pimenta.
Cigana sente sem dizer que sim e
morre todo dia sem admitir. Sente.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Uma nova nova possibilidade. Cortei o dedo em um caco de cristal e ele chorou vermelho sangue.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Enterrada viva

Cada parte minha ardia de dentro para fora, o refluxo passeava pelo peito como se fosse sua casa. Não pude mexer parte alguma sem acordar os fantasmas do outro lado. Falta de ar e frio. Meu peito completamente comprimido dentro de si. Descobri que meus olhos já estavam abertos, fechei mas continuaram a arder. As noites são sempre intermináveis e o sol se pondo um tormento. Toda manhã me lembra que não dormi mais uma vez. Sinto a terra caindo sobre meus ombros, e toda vez que vou fechar um olho cai mais um pedaço. Toda vez que tento respirar lembro que estou soterrada. Tanta coisa há que é vazio.

Passo os dias sentada a uma janela. Quando chove lembro que ainda é possível ouvir. Aqui sempre chove em partes, também o sol vem em partes, e os carros em ondas. O sinal é um estranho divisor de águas que acumula e espalha, acumula espalha, acumula espalha. .  .   .   .    . Às vezes sinto falta de um tempo que não tenho certeza de que vivi. Geralmente não lembro do que disse, e brigas me fazem esquecer quem sou. Mas uma picada de cobra é sempre revigorante.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Unhas roídas até a raiz, a pobreza de um espírito encarnecido. Comeu a carde do outro ainda sob suas unhas. Berrou de dentro do seu poço enlameado e esqueceu que do alto da sua torre de marfim era meretriz. Cascata de ócio, disfarçou a indigente que é vestindo-se de rainha. Rastejou até a parede mais próxima e morreu de desgosto antes de nascer.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Vai

Texto do dia 1.
 
Caminha, passos adiantados, anda, rodopia, corre. Estimulo, estipula o horário. Corre mais uma vez, pulo. um salto criativo, um embotamento emocional. Corre esquece a passagem, secreta. Some some, some mais uma vez, deixa que passe o que não tem passado. Corre, esquece o que estava por vir. Não, sofre, resfria, respira, espirro, expirou. Deixa que suma, suma, assuma. Cai, deixa cair mais uma vez, sobe, some! Soma, um com todos, tudo com o seu, o seu com o que tem e terá o que quiser. Subtrai, não o seu, o que não tem mais, mas o que se perdeu nunca foi seu.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Um texto vindo do futuro

Tive que reescrever. Perdão. Espero que esteja a sua altura, espero que compense e não faça com que você se arrependa dos elogios. Cólera, enchi um saco de areia para aliviar. Cantarolei aquela antiga canção que nos fazia rir pensando nas coisas que desejamos e ainda não temos. Cantarolei mais alto e com mais força para ver se ela nos trazia de volta, voltas foi o que senti, as paredes do pequeno aposento girando ao meu redor, não voltamos. Bati palmas vigorosamente, compus com meus próprios intervalos, senti a agitação gostosa, a energia se reorganizando. Minhas mãos irritadas, dedilhei no ar. Gira, gira gira gira gira Ponto Recomeço, cantarolei nossa canção, sentada a um canto abraço minhas próprias pernas, suas próprias pernas. Nossas costas se apoiam e olhamos em direções opostas. Saímos de algo distinto, cruzamos caminhos e chegamos a reinos distantes. Mande um telegrama contando do seu sucesso, mandarei um também, lembrarei de mandar flores no seu aniversário, poucos chocolates, sei que não quer engordar. Começamos a visitar nossos restaurantes preferidos, sempre bebemos um gole de água no final. Este pequeno aposento ficou árido sem você, mas parece que hoje descobri uma janela.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Elas também são eu

Aceitar um outro lado seu sem dizer que seja, é libertar-se do egoísmo.
Eu mesma poderia dizer que estou sem nunca partir?
Esse possivelmente seja meu retorno, e agora que quase posso ser eu mesma novamente descubro que de fato sou várias. E que talvez deixar de ser "eu mesma" seja parte de ser eu mesma. E eu mesma diante dos outros é ela mesma, e sou tantas elas que nunca se pode ser exatamente a mesma coisa, e às vezes, quem sabe, eu possa até mesmo ser ele, sem deixar de ser ela, ela ou eu.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Nuvem de tempestade sobre a cidade horizontal. Roupas no varal, brinquedos na varanda. Demos as mãos e dividimos o peso das compras do mercado. Cansados de tanto andar, repensamos velhos conceitos enquanto tomávamos chá. Uma joaninha verde pousou na janela, a réstia de luz ainda permitia ver seu sorriso. Quando as gotas caíram disforme e incertas soubemos que não adiantava o guarda chuva colorido. Quando rompemos com o mundo sabíamos que não encontraríamos outro de nós no inconsciente de um gigante. O mundo se perdeu em uma translação qualquer. Hoje é dia de vestir galochas pois deixamos inundar até a canela. Meu chá esfriou antes das cinco, deslizei pelo morro ainda úmido.

Nuvem de tempestade, os pingos caíram irregulares e incontáveis. Galochas para atravessar a rua, capa de chuva para deitar no chão. Chaves sob o tapete, chaleira no fogão. Roupas no varal, na estufa, na cama vendaval. Toda descoberta, partiu para o fim esquecendo de passar pelo meio. Ferro de passar, gorro para andar de balanço. Pêndulo incerto, em algum momento para, pois nem sempre o que volta vai.