sexta-feira, 30 de abril de 2010

Não espere por mim, perdi o ultimo bonde, estou presa e tenho medo do mar. Aprendi a nadar mas ainda não sei voar. Cresci e tenho vertigem quando olho para o chão, se olho para o alto fico tonta, se não olho: escuridão.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Entre guizos e risos, aplausos e pausas. Chão vermelho, sapateado. Luz, fogo, fogão, sopa. Vento, redemoinho, roda moinho.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Eu estava andando entre as poças, sem pensar no transito ou na transitoriedade. Foi quando me vi transitória. Transitando entre pingos, pessoas, pneus e galochas. Senti o galope dentro do peito e fui refém dos truques da minha mente. Mentiu para mim, escondi o que procurava. Derramei rios com desculpas, sem motivos. Água salgada pingando do queixo tremulento. Bebi do meu próprio refresco, revelei onde escondi e não encontrei a desculpa. Sem culpa, sem perdão. Esculpi um futuro lentamente, a lente embaçada, sopro de um anjo.

sábado, 24 de abril de 2010

Orifício aberto, pouca luz, sem imagens. Cada um tem seu tempo, o nosso é de chuva.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Pausa produtiva, não produção pausada.

domingo, 18 de abril de 2010

Quis voar sobre o mar apesar do peso e das ondas altas. A cidade anoitecendo ao longe, a lua crescendo, as primeiras estrelas. Deixei que ouvissem meus desejos, segurei uma ave qualquer e voei.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Meio dia: sentar na janela, vigésimo andar, avenida.
Meio do dia: asfalto, desabafo, afago.
Meio da noite: poltrona, abafo, afoga.
Meia noite: areia nos olhos, pinheiros estrelados.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Aspas e parenteses se abriram e fecharam ao longo do dia. Dois pontos, virgulas, elipse. Ele pisa, eu assobio.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Foi por acaso, vesti meu casaco, olhei para seus cascos e me vi em cacos. Tasco tais cacos na parede, branca, vermelha, rosada, corada. Decorada, Edelweiss, esquecida. Esqueça, aqueça, não a cabeça, o... Porão, portão, metal, mental, verbal, varal, cordel. Varei a noite montando cordéis mágicos, tropecei na varinha, feitiço por acaso. Feito isso por acaso, cordel de casacos mágicos, paredes rabiscadas, cacos de cera.

domingo, 11 de abril de 2010

O vento soprou forte essa tarde e levou minhas penas.

sábado, 10 de abril de 2010

E sabe o que acontece com o patinho feio quando vira cisne? Ele voa, ele é dono de si, seu coração bate com força, ele tem o domínio e corta o fio que segurava aquela pipa. Mas o patinho não enxerga o cisne assim, tão facilmente, ele precisa de outros cisnes para se comparar e descobrir que só estava convivendo com a espécie errada. O que difere um patinho feio de um cisne, são os que estão ao seu redor. E então ele não deixa mais de ser o que se tornou, quando esquece, precisa que seus amigos lembrem ele, precisa voltar ao lago e ver seu reflexo novamente. Tenho voltado ao lago várias vezes, o número de cisnes tem aumentado, os patos se afastam cada vez mais.

Daí lembrei da bruxa aquela, da mocinha, de pele branquinha e cabelos escuros... como é? A branca de neve... a bruxa tinha um espelho. E esse deve ser o mal de alguns, o espelho, o que ele diz? Nada, fala o que você pedir, e do que vale esse reflexo besta? Nada. É um monte de nada refletido num grande nada. Volte ao lago, olhe seu reflexo lá. É ele quem fala, é ele quem revela. Já percebeu a diferença? Qual a profundidade de um lago, qual a espessura de um espelho? É isso, a verdade está na profundidade, é da profundidade que tudo se revela. E enquanto continuar olhando para esse reflexo raso, vai continuar andando em linha reta.

Demonstrei uma linha de conduta que ia, vinha, fazia curvas e voltas. Alguém achou um assombro, mas então não é isso? Passar a vida em linha reta mostra o que? Somos então um daqueles cavalos, que usa tapadeiras no rosto, para que veja unicamente o que vem a sua frente, e pronto. Ele é feliz seguindo o único caminho que lhe é apresentado.

Hoje voltei ao lago, olhei o reflexo e mergulhei, mergulhei até quase sufocar, parei para recuperar o fôlego. E o caminho bom para a harmonia é o perdão. Hoje é dia de perdão. Estão perdoados, eu estou perdoada. E o sol iluminando atravessou minhas asas. Troquei minhas asas de cera por umas de cisne, para facilitar o mergulho. As ondas no lago se espalharam para todas as bordas. Irrigou o mundo ao seu redor.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Um patinho feio, uma ovelha negra. Um dia cinzento, um casaco largo. Tênis velho, meias coloridas. Insônia, torcicolo. Volta sinuosa, duplo sentido. Sentido duplo, correr para ambos os lados, estacionar. Volta, sinuosa, sinos: simm, simm, siiiiiimm... O corcunda se esmera, espera: simmsimm simmmm... Cair na lagoa, boa, voa, soa, sino: simm, simm, siiimmm. Um patinho feio, cisne, sino.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Quem não dorme, sonha.

terça-feira, 6 de abril de 2010

O mundo corre na direção contrária, desvio os ponteiros do relógio, eles vêm na minha direção. Escorrego, salto, me equilibro, desequilibro, mas não perco o equilíbrio. Vou mudar de casa e cortar os papeis. Vou queimar panos velhos, quero espaço dentro e fora. Olho para o céu e vejo a chuva chegar. Pingos grandes, setas. Ponta, ponteiros.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Quando te vi, corri, pulei e me pendurei em você. Seu corpo endurecido pelo tempo, seu topo se deixando balançar com o vento. Você firme no chão, eu sentindo o mundo girar. Conversa muda, senti sua energia e amoleci. Dormi sob sua sombra, acordei com a carícia de uma de suas flores sobre meu rosto. Há muito queria abraçar, mas não imaginava, o tamanho poder que têm as árvores.

domingo, 4 de abril de 2010

O que me atrapalha me ajuda

Encontrei uma pedra no caminha, escalei. Vi o mundo de outro ângulo.

sábado, 3 de abril de 2010

Essa noite os fantasmas, todos, me cercam, eles estão do outro lado da porta, em baixo da cama. A luz faz arder meus olhos cansados. Eu me refugiaria em qualquer lembrança. Mas elas foram levadas, lembra? Eu tento, mas não consigo encontrar uma que me ajude, então me escondo aqui nestas páginas em branco. Este é o meu barco.

Está na hora de criar novas lembranças, estou trabalhando nisso, mas as que perdi me consomem em certos momentos de silêncio. E eu não sei o que vem na escuridão aqui ao lado. Perdi meu batom, espero ainda ter alguns lenços. A meia noite já se foi e com ela a dor no peito. E agora as sombras são mais reais do que os objetos. Elas são só o que existe, sem os objetos que as produzem, e os grilos preenchem a noite.

Lenço florido, cortinas brancas, tinas de águas coloridas. Ando por entre essas bacias brancas onde a luz é refletida. Estou tingida por seus reflexos, sou furta cor. Corro, meus cabelos ondulam com o vento, minha saia corre na direção contrária, sapatos velozes vão a frente. E na frente há uma parede e não transponho, me choco com ela, caio sentada e olho para o paredão infinito. Onde estarei eu agora sentada entre tigelas multicoloridas?

Pego meu bloquinho de notas no bolso, uma caneta e anoto, anoto tudo que se passa para que não se perca, caso eu esqueça. E quem sabe assim apareça uma praça, banco de madeira arredondado. Apoio a testa na mão, e vejo se alguém atesta. Atestado correndo pela grama, tigelas coloridas. Entre as árvores, prismas pendurados nos galhos. Borboletas sorridentes, sento em um gazebo. Observo o mundo lá fora. Vou ao jardim botânico, entro em pânico. Só mantém a calma quem tem porque perde-la.

Só a turbulência pode trazer a paz de volta, só o cobertor pode espantar os fantasmas, agora. Vou mudar meu esconderijo e pedir para que os mosquitos não me denunciem.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Esse saiu do forno agora, só para mudar um pouco o formato:

Noite de lua cheia,
eu, a rua, as flores,
odores, dores.
Dor és, tão forte,
mais sou eu.
Sou eu, estou eu,
estou ei, entoei.
Dancei, roda gigante.
Cansei, lua minguante.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Tem dias em que paro para pensar nas tais “coisas da vida.” Minha avó quando se depara com algo ruim e não tem mais o que dizer comenta: é... são coisas da vida. Dá aquele suspiro e se despede.

Sim, ela deve ter razão, e o que são essas coisas da vida. Alegria, tristeza, sofrimento, realização, conquista, derrota, perder, ganhar, sorrir, chorar. Desespero... e para mim, a tal frase não produz nenhum efeito calmante ou reconfortante. Conformista talvez. E agora quem é que pode escolher as coisas da vida, algumas delas simplesmente caem nos nossos colos, e pronto! Ou você nina ou se irrita com o “estorvo”.

Hoje eu certamente preciso me livrar de algumas dessas coisas da vida, que estão encalacradas aqui, e ficam zanzando de um lado para o outro, elas que se aquietem, já estou ficando tontinha, tontinha com tantos zanzar e rodopiar. Aí, eu abro a portinha do quartinho escuro onde elas se encontram, e peço que saiam por gentileza. Mas elas têm lá suas exigências, não vão assim para qualquer lugar... querem um papel perfumado, uma letra caprichada, e não aceitam ser simplesmente soltas aí pelo vento. E se a gente não anotar... aí tá feita a folia, elas se recusam categoricamente a deixar aquela mente que encontraram com tanto sufoco. Sabe como é, tiveram que correr atrás de fiador, seguro, garantia, reforma, vazamento. Agora que encontraram um espaço tão bacaninha, uma mente tão arrumadinha, foram logo transformando tudo naquela desordem, falando todas ao mesmo tempo, “serelepecando”, e deixando o povo todo muito atrapalhado. Constrangidas? Não, elas não. Não se constrangem assim a toa, não é qualquer banho quente que as amolece.

E agora eu abri a tal portinha e elas achando que a proposta que eu fiz era tentadora, não param mais de sair, e enquanto elas não terminam, eu fico aqui presa, a seu dispor, transcrevendo tudo que me pedem. Será possível? Eeeiiii eu tenho mais o que fazer! Ah, tudo bem, tudo bem, eu me divirto também nesse meu serviço aqui. Além de me livrar, do atordoar, de tais inquilinas, ganho algumas linhas bacaninhas para mostrar aos meus netos quando perguntarem: vovó, o que são as coisas da vida?

Eu vou contar-lhes, tudo aquilo que faz parte da vida, mas vou pedir para que não digam em um enterro, isso são coisas da vida. Oras, e isso então não são coisas da morte?