segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

A tarde começou quase sem que percebêssemos. Seu nome foi virando uma poeira e desaparecendo de todos os lugares. A chuva veio mais tarde e levou aquele pó que eu já não reconhecia como você.
Eu sentei de frente para a janela. O chá foi esfriando na xícara. As folhas brilhantes balançavam num ritmo inconstante. Os sentimentos foram se alterando mansamente. Olho no espelho e não sei o que vejo.
Quem é esta mulher que me olha? A fisgada foi rápida, perdurou alguns instantes, passou e voltou. Mas cada vez é mais rápida, e demora mais para se repetir. Essa fisgada foi descendo, primeiro no peito, depois no estomago. Sei que logo terá escoado completamente.
Logo sua presença não passa de mais uma mancha da qual não lembro a origem.
Sinto-me grata por ter conseguido partir, mesmo com você apenas dificultando tudo.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Em silêncio, quando não há quem olhe, aquele sorriso vai brotando no peito. Se alarga, se espalha, vai subindo, subindo. Aquele sorriso de notas macias, que diz verdades doces. Aqueles dias em que o sol esquenta de dentro para fora. Um daqueles dias em que derretemos geleiras, e a semana toda se amorna. Caminhos um pouco tortos, pedras muito coloridas, e seu acinzentado vai ganhando formas. Deitamos sobre a grama macia, e suas mãos vão percorrendo o chão úmido. Num movimento frouxo deslisa até o rio, e se deixa levar pela correnteza.