terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sininhos espaciais

Elas dançam no escuro, leves se espalham pela cortina que nos fala a noite. Sussurram pequenos contos enfadonhos que descobriram com velhos marinheiros. São elas marinheiras, nadam lá para que nos guiemos cá. Sempre quis pegar carona no rabo de uma delas. Sempre quis segurar firma e voar em alta velocidade. Se pego carona com minha guia... creio que posso fechar os olhos por instantes.

Elas são prata? São multi cores, são muitas. Elas se espalham delicadamente, demoram-se no processo de dilatar-se, de expandir-se, de dominar territórios, de cair e queimar cabelinhos verdes. Fagulhas saltam dos meus olhos e atingem aquele objeto disforme. Tento adivinhar o intervalo entre um stop e outro. Tento recriar as medidas de tempo, tento dilatar o segundo entre o teu sopro e o meu bis.

Quantas escadas, quantas escadas subimos, contamos o número de degraus, desdobramos o bilhete que passou cinco anos do bolso traseiro. Capricha! Dizia a ficha do homem de capuz listrado. Roupas rasgadas, e... Foram elas! foram elas é o que ele dizia, quanto desespero, quanta alegria, fagulhas no olhar, fagulhas nas pontas dos dedos, subiam, subiam, subiam... e juntavam-se a elas naquela lonjura tão distantes quanto, quanto, tanto quanto tantos milímetros de distâncias espaciais cabem nela. Tanto quanto tantas delas cabem nessa distância.

Memória, são esses os fios dourados da memória, são elas os pontos multicoloridos da memória do espaço. São elas recordações de planetas inteiros. São elas milhares de vidas e inexistências. São elas compostas de todos os intervalos e continuações, são elas cheias de não existir mais, e de cativar, e de indagar. São elas cheias de vazio da imensidão. São elas guias, são elas cadentes, são elas constelações inteiras. É uma delas que me pega pela mão e me leva ao cinema, é uma delas que deita na calçada. É para a primeira delas que peço todo anoitecer. É sempre com uma delas que converso no intervalo do verão.

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