segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Por que a produção?

 Criar inclui um pouco de dor. Eu me pergunta o motivo disso. Acho que em certa medida é porque entramos em contato com a nossa própria dor. É dela que extraímos esse produto que alguns ousam até chamar de arte. Mas nem sempre é. E acho que a beleza é justamente essa: não precisar ser. Porque se precisássemos ser sempre belos, ficaríamos engessados. Pergunto-me se seria possível produzir assim. A resposta não é absoluta ou igual para todos. No entanto, creio que para mim seja sim.

As amarras da beleza prendem esse impulso de seguir fazendo pela simples necessidade. É como se todas essas ideias fossem se empilhando. Se não colocamos elas nos mundo, criam uma espécie de represa ainda mais dolorosa. Fica impossível saber exatamente qual é o sentimento, porque o pesar de cada criação contida é sentido simultaneamente.

Ainda assim, me pergunto: por que criamos? A princípio pela simples necessidade. Mas faz sentido se ninguém tomar conhecimento? Pode até parecer vaidade e, no entanto, me pergunto se é. Penso que, talvez, não faça sentido criar se nunca alguém puder ver.

Criar é uma dor, mas também é o alívio. Então, se torna quase um vício. Um analgésico de duração muito curta. Começo assim a questionar qual é o limite. Se posso perder a noção de quando parar. Saber colocar o ponto final no lugar certo faz parte da beleza e do sentido. Uma ideia sem ponto pode se tornar um emaranhado de palavras sem significado. Tem dias em que pareço não encontrar mesmo o meu ponto final.

Abro uma caixa antiga em busca dessa informação e me perco entre tantos recortes de jornal. Por que guardamos essas histórias? Elas nos definem até certo ponto. Apenas até certo ponto. Depois disso, é o sentido que damos ao que foi vivido. As histórias vão tomando novas formas e parecem ganhar vida própria, em certos casos. Não há controle, de fato, sobre o que anda por aí.

Levando isso em consideração, talvez a questão seja apenas seguir fazendo porque é necessário. Talvez a liberdade esteja, de fato, em pensar que nunca alguém tomará conhecimento. Mas a motivação está na esperança de que, algum dia toque alguém. E é nesse misto de liberdade esperançosa que é possível seguir.

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