sábado, 25 de setembro de 2010

A janela despencou do décimo primeiro andar. Caiu lenta até atingir o solo confortavelmente. Deixou passar alguns transeuntes desligados, se fez indiferente para outros apressados. Talvez tenha perdido suas botas durante a queda, talvez tenha perdido no impacto. Quis chorar mas preferiu novas aventuras. Desventuras insignificantes, grandes impactos. Como quis ser pedra. Aceitou tudo resignada, virou de costas e caiu lentamente, enquanto pensava no que havia passado. Não pensou no que estava por vir, fez alguns planos para os anos seguintes. Lixou as unhas enquanto estava no ar, rodopiou. Não pediu mais que lhe devolvessem o que era seu. Pensou que certamente nem queria mais o que supostamente teve. Decidiu que todo o vazio era seu, decretou que as posses passassem a ser todas dos imbecis.

Afinal de contas, eles precisavam dizer meu, não ela, não mais. Abriu os braços, assim ficaria mais confortável. Sentiu-se feliz por deitar finalmente. Nem percebeu os olhares perplexos das pessoas olhando seus cacos espalhados. Achou belo, gostou dos reflexos produzidos, brilhou com eles. Alguns se apavoraram, outros quiseram compreender. Mas ninguém poderia de fato. Nenhuma das ações pretendidas era para ajuda-la, mas para deleite próprio. O prazer de descobrir o que se passa com o outro. Ela continuou deitada.

Quando ficou suficientemente cansada, levantou. Levantou e pensou em voltar pelo mesmo caminho que veio, mas preferiu não pegar o atalho da esquerda. Ignorou as opiniões, fechou os olhos quando o sol a cegou. Repentinamente percebeu que a visão nunca lhe fez falta, e fechou os olhos para sempre. Fechou também a boca e ficou surda. Não sentiu mais, rumou folha ao vento. Veneno risonho andou por veias estranhas.

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