terça-feira, 14 de setembro de 2010

No alto daquele morro, tão alto que não se via nada além do céu, estava sentada aquela moça, envolta por suas vestes brancas. Longos fios ondulavam com o vento, serpenteando com calma doçura. Nos aproximamos e pudemos ver seus olhos fechados, nenhum dos músculos que pudéssemos ver se moviam, e duvidamos que algum outro pudesse ainda viver, não fosse o leve movimento em seu peito. Mãos sobre os joelhos, a moça esqueceu seu passado, esqueceu também seu futuro e seu presente. Esqueceu quem era e quem poderia ser, esqueceu quem foi você e quem sou eu. Esvaziou-se a moça, tudo nela se calou.

Todos os dias ela retornou ao mesmo ponto. Não imaginamos a tempestade que se armava sob o céu sereno. Não suspeitamos que a calma construída teve que perdoar o imperdoável, e amar o repugnante. Não imaginamos que seus passos lentos não eram por calma, mas por medo de chegar. Não quisemos ver que seu último refúgio não era apenas o alto da montanha, mas também a beira do precipício. Não suspeitamos da dor que fez aquela moça acordar nos últimos dias, nem quisemos saber da solidão que a fez adormecer. Preferimos ficar com a imagem plácida que tivemos de dentro dos nossos casulos. Preferimos receber sua bênção todos os dias, como se ela não precisasse de ar.

Então um dia o Sol raiou e a moça não estava mais lá, não havia sinal algum da sua passagem, não ouvimos seu nome ou seu sussurro. Ninguém comentou o que viu, ninguém ousou levantar o olhar. Mas parece que todos sentiram o mesmo aperto, e foram todos igualmente fracos para perguntar o que havia acontecido. Fomos todos suficientemente egoístas para pensarmos na falta que sentimos, mas nenhum de nós pode pensar no pavor que levou a moça.

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