terça-feira, 7 de dezembro de 2010

E a cama afundou. O moço dormiu tanto que a cama afundou, virou uma conchinha e o engoliu. O moço agora faz parte da cama, talvez ele vire uma pérola. Não, dormindo ninguém vira pérola. Algumas conchas fabricam suas pérolas enquanto dormem. Mas o moço não era concha, era pedra. É ele fingiu ser uma pedra, enquanto dormia. O moço que dormia hibernava. O moço que dormia invernava, mas era verão. O moço dormindo invejava, mas não corria atrás do bonde. A sua cama concha se abria uma vez por dia para tomar sol. Semana passada o moço disse que amava a vizinha, mas a vizinha sabia que ele amava mesmo era sua concha. Colcha de retalhos sobre a grama e a vizinha acordava a noite toda. O moço, concha fechada, boca aberta, nariz empinado, saía rodando, e rodando feito vendaval levava o que via pela frente. Como comia aquele menino! É certo que depois reclamava estar gordo, mas não saía da sua concha... talvez pensasse estar virando uma pérola, mas estava virando mesmo um bolinho de carne. O moço brigava, lutava por nada, berrava e a vizinha até escutava. A vizinha já estava cansada de tanto chororô, a vizinha enfeitada foi a festa, e quem encontrou lá? A vizinha já estava irritada, mas ainda era borboleta sem asas. Acontece que sempre aparece um vaga lume no meio da noite, e a vizinha tentou seguir sua luz, o vaga lume pisca, e em um desses piscar a vizinha se perdeu. Mês passado o vizinho apertou a moça bem forte, ela sufocou. Levou dias para recuperar o fôlego. Ano passado o vizinho segurou a moça bem firme, ela escorregou feito gelatina. O tempo passou e o relógio ainda faz cuco a meia noite. A vizinha escorregou pela janela e ele nem percebeu, estava fechado na sua concha. A moça morreu e ele não viu, dormia há anos.

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