terça-feira, 23 de agosto de 2011

Chega de esperar que passem as horas, devo deitar e dormir. Essas luzes todas nos fazem esquecer do que realmente nos faz amanhecer. É hora de desgrudar de todas essas coisas que correm independente de nós. É tempo de agarrar na pipa que nos guia e voar por essas terras coloridas, devemos vestir nossas galochas da estação passada e manter os pés secos enquanto andamos nessa garoa fina e pulamos nas poças acumuladas durante a noite. Quando acordamos só vemos o resultado do que foi se acumulando enquanto repousávamos sem preocupação alguma. Agora fazemos a festa enquanto assistimos as pombinhas beberem do chão. Sim, é tudo muito estranho, é também tudo muito colorido. O sol ilumina de formas diferentes ao longo do dia, mas já era noite e ele raiava nos seus olhos. Deitamos e esperamos a hora passar, esperamos até demais e agora já é outro dia, e eu ainda penso que falei que iria dormir cedo. Eu amo todas as suas cores, mesmo quando fica nublado ainda sou sol.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sininhos espaciais

Elas dançam no escuro, leves se espalham pela cortina que nos fala a noite. Sussurram pequenos contos enfadonhos que descobriram com velhos marinheiros. São elas marinheiras, nadam lá para que nos guiemos cá. Sempre quis pegar carona no rabo de uma delas. Sempre quis segurar firma e voar em alta velocidade. Se pego carona com minha guia... creio que posso fechar os olhos por instantes.

Elas são prata? São multi cores, são muitas. Elas se espalham delicadamente, demoram-se no processo de dilatar-se, de expandir-se, de dominar territórios, de cair e queimar cabelinhos verdes. Fagulhas saltam dos meus olhos e atingem aquele objeto disforme. Tento adivinhar o intervalo entre um stop e outro. Tento recriar as medidas de tempo, tento dilatar o segundo entre o teu sopro e o meu bis.

Quantas escadas, quantas escadas subimos, contamos o número de degraus, desdobramos o bilhete que passou cinco anos do bolso traseiro. Capricha! Dizia a ficha do homem de capuz listrado. Roupas rasgadas, e... Foram elas! foram elas é o que ele dizia, quanto desespero, quanta alegria, fagulhas no olhar, fagulhas nas pontas dos dedos, subiam, subiam, subiam... e juntavam-se a elas naquela lonjura tão distantes quanto, quanto, tanto quanto tantos milímetros de distâncias espaciais cabem nela. Tanto quanto tantas delas cabem nessa distância.

Memória, são esses os fios dourados da memória, são elas os pontos multicoloridos da memória do espaço. São elas recordações de planetas inteiros. São elas milhares de vidas e inexistências. São elas compostas de todos os intervalos e continuações, são elas cheias de não existir mais, e de cativar, e de indagar. São elas cheias de vazio da imensidão. São elas guias, são elas cadentes, são elas constelações inteiras. É uma delas que me pega pela mão e me leva ao cinema, é uma delas que deita na calçada. É para a primeira delas que peço todo anoitecer. É sempre com uma delas que converso no intervalo do verão.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Nem sempre preciso falar

Por vezes sento no escuro e escuto aqueles passos do outro lado da rua. Às vezes acordo antes da hora e aconchego a cabeça no travesseiro para aproveitar os últimos segundos. Tem dias em que me dilato, tem dias que sou contração. Roubo tantos fiozinhos no espaço que uma hora fica difícil de conectar todos eles. Na maior parte das vezes sou nublada, e o sol sempre surge por entre essas nuvens que se afastam, mas não se desconectam. Quase todos os dias somos rios. Escorremos ao longo das horas e uma hora ou outra chegamos.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Confissões Noturnas

Vomitei minha alma e ela toda espalhada por aí foi perdendo o sentido, e eu me senti só por tanto tempo que às vezes ainda posso sentir a agonia. Como tudo passa a fazer parte do mesmo jogo repentinamente e perdemos nossas certezas pelo caminho e às vezes as reencontramos por aí.

Eu hoje acordo sempre lentamente e já não sei mais das coisas óbvias que guardava em caixinhas separadas. Será que a história sempre se repete de uma forma ou de outra? Qual é a diferença entre essência e hábito? Como me diferencio, como me compreendo em partes? Como trilho meu caminho solitário se estou sempre acompanhada? Como respondo tantas dúvidas separadamente se não me divido? Como me divido? Como, como, como. De que forma posso me descrever se perdi o rumo. Essa neblina fria cai sobre nós e turva nossos passos. Quem somos afinal? Como pode me encontrar se eu nem mesmo disse que desejava. Talvez esperasse mesmo, talvez já houvesse planejado tudo com precisão. Quem sabe dos caminhos que marcamos se nos planos eles são tão mais simples. E se quando planejei previ as dificuldades mas continuo sem saber como resolvê-las? Imaginar é muito mais simples, pulamos a parte difícil e vamos logo para os finalmentes, e tudo funciona ao final. Mas eu não lembro o que planejei, que fim levávamos.

Já encontrei "o" homem certo várias vezes, e adivinhe só, foi chato, foi muito chato. E saiba, a vida não dura mais do que dois segundos. O que você acha das minhas palavras. Não lembro do dia em que comecei a morrer, mas ser sempre consciente dói demais. Amanhã lembre de mim, carregue nosso acordo o mais vivo que puder. Lembre que nem sempre foi assim, essa é nossa última chance, ideia sua. Cobrimos nossas faces com algodão doce. Não sou um gênio e nem sempre entendo o que os intervalos dizem.

Entrego-me a este balanço suave, o mar já não é mais o mesmo, nossos sonhos se transformam conforme passa o dia. Nossa luta se recria e há muito que perdi a noção do tempo, antes contava a semana nos dedos. Vamos dormir antes que o dia amanheça.

Que confusão Dona Maria João

As camadas de terra são depositadas sobre o corpo frágil. A idade não obriga as pessoas a envelhecerem. Permaneceu jovem até o fim, sempre com um pique de dar inveja àqueles que com ela aprendiam. Admirada e por alguns protegida como quem defende uma mãe. Seu canto ainda penetra em nossas almas e entristece mesmo aqueles que há muito estavam distantes. E quem sou eu para dizer da figura sorridente que me encara com sua vida na mão? Sou pássaro novo tentando aprender.