sábado, 25 de fevereiro de 2012

(des)acordar

Escuto ele correr atrás de mim e vou meio desvairada para qualquer lugar. Suas engrenagens se encaixam e desencaixam e eu me espanto a cada estralo mais alto. Sobressalto, mãos ao alto! É tempo de contar. Inspiro, expiro, suspiro. Os parágrafos voam e logo virá um novo capítulo. Tento adivinhar suas linhas. Ele passa depressa, ele corre veloz, e eu tento seguir à sua frente, quase tropeço nas longas vestes. Não vejo, há muito que não vejo, então tento adivinhar, e olha que desastre. Sinto, e vai fazendo efeito.

Paro de tentar acertar o que passou ou o que acontece agora. Paro de tentar, e simplesmente caminho a teu lado e seguro a mão que acaricia a manhã. Sento no alto do morro e vejo o sol se por atrás de uma linha imaginária que o leva para outro lugar. Sorrimos sem querer e quando percebemos já é riso solto. Acordei de uma maneira e fui passando com as horas. Agora nem poderia dizer ao certo o que há. Soube repetidas vezes como é ser deletada sem julgamento ou coerência, mas simplesmente existir é algo a que me acostumo agora lentamente. Um pequeno fato agora sem importância às vezes chama a atenção, e você pode talvez não entender, mas ele parece arrancar a casaca de uma antiga ferida e fazê-la voltar a sangrar. Por vezes corro a procura de curativos, mas veja como os teus apodrecem sobre a carne e você nem pode olhar para o próprio braço. E é de abraços que vivemos.

Ninguém jamais poderia saber como é, ou como foi, nem eu mesma posso dizer. Me calo inúmeras vezes tentando descobrir qual seria a palavra correta, difícil descobrir.

Como saberei que textos ainda terão sido mentira, como saberei qual é a verdade. Perco a noção do tempo que se despedaça e conta sua própria história. Eles pedem que a gente se entenda, e vamos nos entendendo pouco a pouco. Prometi não gritar mais alto do que a sua própria voz, já não o faço. Hoje também nem poderia, perdi a minha. Hoje já não posso mais dizer, essa grande máquina colorida me atropelou e agora tento levantar novamente. Hoje o cinza do céu invade o meu corpo, sou fumaça vagando silenciosa embora borbulhem aqui dentro. Vamos escrever uma nova história porque dessa coisa velha eu já cansei. Vamos construir nossa própria máquina do tempo para que ela possa andar na nossa velocidade. Vamos desmontar esse cavalo, que poderia ter sido alado, e voar por nós mesmos. 

Essa manhã eu acordei e quase nem acredito que sou a mesma. Essa manhã eu acordei e quem sabe ainda continue acordando.

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