terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Doente terminal

O biquinho ofegante, os peitos saltando, os bracinhos erguidos e as mão cerradas. As sandálias de plataforma batucando as pedras do terminal antes que o ônibus partisse e ela ficasse. O vento dos seus pulmões ainda agita nossos cabelos que se prendem em fivelas e se soltam em cachos. Nossas folhas ainda se agitam inclinando em reverências trêmulas e voltam aos seus lugares. A luz mais forte, hoje, quase sempre se esconde sobre o branco do céu, e o calor da caminhada termina de se dissipar. Já quase chega a hora, mas há sempre um relógio adiantado.

A moça sai do ônibus sempre nesse horário. Por um tempo acompanho sua caminhada, por um instante me distraio e a perco. Sempre imagino seu percurso enquanto outros a esperam. Costumo calcular as horas, e gosto de deixar um relógio cinco minutos adiantado e o outro na hora certa. As pessoas esperam para passar para o outro lado, enquanto a moça não vem. Ela prende os cabelos sempre no alto, bem junto a sua cabeça. Quando a moça vem, volta ao seu posto e a gente ao nosso oposto. Ela sempre lê ao longo do caminho e o seu trono é sempre o mais alto. Hoje ela come quitutes que certamente não foram brindes. Nossa carruagem amarela, onde pouco é ouro, quase nunca se ganha de graça, a não ser que seja olá, bom dia, muito obrigado.

Aqui a gente geralmente não se obriga, se não piora.

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