terça-feira, 19 de abril de 2011

Ainda é a vela, precisamos de ar. Sopro agudo e o professor avisou que vento não faz barulho. O que canta então? Será nosso peito distraído na escuridão? Pede, pede logo perdão e vamos embora antes que ele fale mais. Pega sua mala, as rodinhas estão quebradas. Rápido, vamos deslizar. Vela colorida agita no ar, agita o ar. Navegamos contra a maré, mas estamos a favor do vento. Estamos submersos mas nossa vela ainda brilha. Barco a fogo, mastro parafina. Esquece que somos dois a voar com a maré. Rápido, deslize por esses caminhos que inventamos, vamos chegar logo pois a viagem já dura muito tempo. Cuidado com o cotovelo na aresta, cuidado com o joelho e com a testa. Pegue aquele casaco quente pois pode esfriar no caminho. Vamos chegar antes das onze e aproveitar as últimas horas do dia. Vamos escutar o vento e esquecer o que diz aquele professor maluco. Vamos roubar sua peruca branca e esconder no baú florido. Vamos rápido antes que nos vejam. Esquece essa vida que nos segue, ignore estes ramos de erva daninha. Arrancamos um a um todos os anos e eles ainda crescem. Sabe que nada brota em mim sem que seja regado. Sabe que as flores brotam nas minhas orelhas, são brincos de princesa, e ainda assim continuamos plebeus. E é no vulgo, no indistinto e ordinário que fazemos nossa riqueza. Misturados ao todo conseguimos ser únicos porque erguemos as mãos quando sobe a maré. E somos tão únicos quanto todos os outros. É nesse balaio de gato que nos reconhecemos e miamos dengosamente um para o outro. Somos tão ordinários, temos nossos costumes ordinários e nossa vela ordinária. Acontece que cada vela só brilha para seu próprio dono, e por isso só nós sabemos para onde o vento nos sopra.

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