sábado, 2 de abril de 2011

Repetir a mesma frase até que ela esteja suficientemente suja e gasta. Gaguejar incontáveis vezes o mesmo nome até não ter mais certeza de quem é. Ganhar um lugar no céu pelo simples fato de nunca ter vivido. E deixar de viver repentinamente por ter se deixado inundar com os olhos ainda fechados pela cola do nascimento. Roupas, sapatos acessórios, um vestido novo, uma passagem para o inferno. E quando formaram as primeiras gotas de orvalho ele ainda contava histórias de monstros reformulados em cirurgias plásticas. As mãos macias sangram toda vez que volta o inverno, e os lábios cansados proferem estrofes batidas. Cacos podres compõem a estrada de maus sensos que leva ao centro de suas pernas, que faz com que eles se dobrem e doam toda vez que tocam o chão. Rupturas incompletas constroem falsos recomeços. Então reencontramos velhos amigos, a noite está nublada mas sabemos que as estrelas ainda brilham acima das ilusões de óbito. Nessa noite contamos nossos sabores, construímos com fio e cola, e pudemos até sonhar que somos capazes de ser independentes. Mas o sol sempre pode nascer com um pedido de não ter que acordar mais, e esse desejo já nos é velho conhecido. E ter que resistir a cada amanhecer pode ser duro demais para quem tem medo de fantasmas ainda vivos. Começamos a abraça-los em falsas confraternizações. Espero que em breve possamos ser apenas. Ele soltou a frase em meio a ventania e ela voou rodopiando até acertar um poste gelado e sentir penetrar e se espalhar pelo corpo cansado de tantas voltas. É chegada a hora de encontrar um ponto final, para que possamos virar a página e começar um novo capítulo.

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